Terminada esta aventura pela Solidariedade em terras polacas, mais concretamente no berço da Solidariedade Polaca, é chegada a hora de interiorizar e reflectir sobre o vivenciado que, face há pouca distância, é ainda um pouco difícil de exteriorizar.
Do que ali vivi destaco a ideia de que o futuro da Europa passa pela Solidariedade e, como tal, penso que o de Portugal também. A nossa história é riquíssima em exemplos disso mesmo. Dentro e fora de das nossas fronteiras. Foi e é assim com Timor e com os outros países de expressão portuguesa. Foi e é assim quando tomamos consciência de que temos modelos únicos de práticas solidárias como as Misericórdias (com mais de 500 anos). Foi e é assim quando vemos as inúmeras iniciativas que surgem em tempos de crise como os actuais. É incontornável que também nós somos e estamos marcados pela Solidariedade.
Por outro lado, vimos também que de facto é fundamental actualizar e inovar o debate sobre as questões da Solidariedade, sem nunca esquecer o já vivido, sempre que possível entrando em contacto com os espaços as memórias vivas dos factos ocorridos. Meu Deus, como foi arrepiante ouvir: “foi exactamente aqui que há 70 anos começou o primeiro ataque alemão que deu início à 2ª guerra”, estávamos em 1939; no mesmo local onde em 1979 o Papa João Paulo II nos disse “Não tenhais medo”; terra onde nasceu um dos movimentos sociais mais marcantes do séc. XX – “Solidarinosc” que teve consequências quer no mundo ocidental mas fundamentalmente na Europa de leste.
Foi por tudo isto que pude experimentar um misto de privilégio e de responsabilidade. Privilégio por estar a participar na história ao viver in loco os primeiros “Dias Sociais Europeus” mas também a responsabilidade de sentir e compreender que agora é nossa vez, é a minha vez (como ali nos foi lembrado, tudo começa ao nível do compromisso individual) de arregaçar mangas, pôr pés ao caminho e, com humildade e simplicidade mas também com muita ousadia e perseverança, arriscar (re)criar ambientes de SOLIDARIEDADE.
À luz desta experiência sinto que somos de facto herdeiros do espírito das comunidades primitivas. E qual era o Espírito das primeiras Comunidades? Eram assíduos à oração, à partilha dos bens e à pregação e ensinamento dos apóstolos (Act. 6). Ou seja, tinham tudo em comum, os bens e os sucessos. Logo, também tinham em comum e também partilhavam o fracasso, a humilhação, a incompreensão, o descrédito e o sofrimento; eram os mesmos que tinham seguido Jesus até à sua morte! Pergunto-me se este não terá sido o segredo do povo polaco para conseguir reerguer-se e ser hoje um povo solidário, alegre e acolhedor (foi assim que nos sentimos nestes dias) sem esquecer mas integrando a experiência difícil que viveu durante o séc. XX.
Salvaguardando as devidas proporções, percebo agora que também foi um pouco disto que pude experimentar, em especial com a comitiva portuguesa onde rapidamente se criou um ambiente de confiança e de amizade que permitiu partilhas profundas e discussões acesas. Mas agora qual é a nossa Missão? Onde estamos e para onde vamos? Com o que somos o que queremos ser neste grande sonho de reinventar a Solidariedade?
O desafio está feito na mensagem final onde é referido que “a Europa (e Portugal também!) tem falta de homens e mulheres educados na fé, prontos para estender a mão ao seu próximo, em nome de Jesus Cristo, e todos comprometidos com a construção de relações e de instituições de solidariedade, ao serviço das pessoas de hoje e para o bem das gerações futuras”.
Como dizíamos no fim da nossa viagem, também nós queremos aprofundar o diálogo e partilhar o trabalho que fazemos tendo em vista o bem comum. Sabemos que o desafio é grande mas também podemos lembrar sempre que qualquer caminhada de mil km começa com um simples passo. Se, como nos desafiava João Paulo II, não tivermos medo, acredito que também nós poderemos despoletar um “Solidarinosc” à nossa medida se formos fiéis e nos assumirmos como um Grupo Dinâmico de Aprofundamento e Acção Na Solicitude Social “Katolica (GDANSK 2009)”.
Sonho? Talvez mas eu acredito que, como alguém disse um dia, “pelo sonho é que vamos”.
Henrique Joaquim, Professor Universitário, Membro da Comitiva Portuguesa nos Dias Sociais da Europa