Diocese de Setúbal promove campanha de solidariedade nas paróquias para promover «proximidade, ajuda e suporte» entre comunidades
Setúbal, 16mai 2020 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal afirmou que uma crise como a que a sociedade portuguesa neste momento enfrenta “tem de ser encarada em conjunto, sem deixar ninguém para trás”, caso contrário as consequências “serão para todos”.
“Temos de pensar não só a nível local, mobilizar a Igreja e todos os que queiram ajudar porque isto não se trata de algo confessional, mas trata-se de que a sociedade viva. Crises deste género ou se vencem juntas, não deixando ninguém para trás, ou isto vais tomar conta de nós. Foi isto que o vírus veio dizer: ou tomamos cuidado uns dos outros ou todos vamos sofrer as consequências e penúrias dos que estão em maior dificuldades”, referiu D. José Ornelas à Agência ECCLESIA.
O responsável pede maior atenção para as pessoas que “estão a chegar ao país”, que “sem nada, chegam ao desconhecido” e lembra também os muitos que ficaram desempregados, na sua diocese, fruto de trabalhos sem vínculo e sazonais.
A Caritas diocesana está, neste momento, a apoiar cerca de 15 mil pessoas, provenientes de quatro mil agregados familiares, mas D. José Ornelas fala em números crescentes.
Sendo uma região de imigração por toda a diocese temos grandes grupos de imigrantes na construção, restauração e agricultura e que se viram sem nada de um momento para o outro. Alguns são imigrantes recentes com a sua situação de integração no país, precária, e são por isso mais atingidos e ficaram sem fontes de receita e por isso, com fome”.
Os setores da restauração e da construção são os mais atingidos, negócios que se situam na orla “marítima” na cidade de Setúbal e também na Costa de Caparica, onde se vivem situações “dramáticas de fome”.
“As pessoas fragilizadas que estão a ser abrangidas pelas medidas do governo, não receberam nada ainda e essas pessoas têm de comer. Há muitas pessoas a quem falta o essencial”, lamenta.
Há cinco anos na diocese, D. José Ornelas recorda que chegou no “rescaldo da crise iniciada em 2008” e conheceu “ainda” as graves consequências da austeridade desses anos; hoje manifesta intenção de não voltar a essa situação.
“Queríamos que desta vez não voltássemos a cair tão fundo. Sabemos que este é o propósito do governo, não entrar numa lógica de poupança e retenção mas de apoio aos mais fragilizados, que aqui são muitos”. Indica.
A Diocese de Setúbal vai promover uma campanha de solidariedade que pretende “descentralizada”, que se desenvolva nas comunidades paroquiais para que “o que se recolha, seja distribuído nesses mesmos locais”, numa manifestação de “proximidade, suporte e ajuda”.
Nós estamos no terreno, e todas as ajudas são bem vindas, com entidades oficiais temos muito bons contactos. Não se trata de ver quem faz boa figura ou quem colabora mais, o objetivo é ajudar as pessoas. Só queremos trabalhar, para que cheguemos ao fim de isto com mais justiça e para que ninguém fique pelo caminho.
O responsável acredita que se “ninguém ficar para trás”, a sociedade vai “sair mais forte”.
“A crise veio dar-nos uma oportunidade nova: em muitos lugares tínhamos pessoas de mais idade que faziam a distribuição de cabazes semanais e hoje, na sua maioria, são jovens e tem de ser assim. Isto é um bem e vamos sair mais fortes. Os jovens vão ajudar e ajudar-se a si próprios aprendendo a alegria de estar ao serviço dos outros”, indica.
O trabalho social na Diocese de Setúbal, em resposta à pandemia de Covid-19 é um dos destaques na próxima emissão do programa ’70×7′, este domingo, pelas 18h05, na RTP2.
HM/LS