Solidariedade: Um banco para dar tempo

Lisboa, 19 nov 2011 (Ecclesia) – Utilizar o tempo de cada um como moeda de troca, em tempos de crise, é a ideia de fundo do Banco de Tempo, uma iniciativa em que os ponteiros do relógio rendem.

“Tenho sempre alguém que vai fazer revisão ao meu carro, coisa que eu não entendo nada… Imagine-se que nunca mais fui ao cabeleireiro, porque há alguém que me faz isso” confessa Irene Silva, da agência do Banco de Tempo do Lumiar (BTL), Lisboa, em declarações ao programa Ecclesia, na Antena 1, que vai ser transmitido este domingo (06h00).

Nma sala simples, com três computadores e um telefone, esta responsável dedica duas tardes por semana para que a agência esteja aberta e é lá que recebe as pessoas que querem tempo, os telefonemas que pedem tempo.

Aos 64 anos, Irene Silva diz que dá por este projeto o seu “tempo todo, vale a pena”, exibindo o site criado para o efeito www.btlumiar.org

Na mesma agência, Artur Monteiro, de 77 anos, continua a treinar ginástica e voleibol, em troca de aulas de inglês, informática e desenho.

“O Banco de tempo transformou a minha vida. Depois de ficar viúvo só consegui sair de casa para vir dar tempo, e aqui estou. Ganhei amigos, recuperei afetos e não penso em mais nada”, revela à ECCLESIA.

Para se requerer algum serviço é preciso dar tempo em troca e são vários os disponíveis: ginástica, desenho, inglês,  apoio na condução, arranjos de costura, companhia,  pequenos conselhos jurídicos ou aconselhamento psicológico.

“O serviço mais difícil de encontrar é o de canalizador, mas o de apoio na condução ou de companhia tornam-se fáceis”, refere Irene Silva.

Este banco já serviu de apoio a desempregados que, através da dádiva de tempo, agarraram oportunidades e conseguiram ultrapassar fases menos boas, por isso está em fase de criação o BTL-Business, para servir de base à ajuda na procura de emprego.

A mentora do projeto no Lumiar está convicta que esta pode ser a “solução para os tempos que vivemos, conturbados e de crise a todos os níveis.”

Os mais novos também têm direito a dar e receber tempo, pois existe o BTL-Junior onde estes se inserem nas atividades para a sua idade, desde momentos em família a workshops de dobragem de papel.

Paula Azevedo, arquiteta de profissão, achava que não conseguia dar tempo em nada de útil, mas o BTL ajudou-a a fazer uma mudança de casa e agora organiza “visitas a museus e exposições onde todos são convidados a desenhar”.

“Alio o prazer à dádiva do meu tempo”, indica.

Já Pedro Silva encontrou na fotografia e no cinema o modo de dar o seu tempo, em troca de umas aulas de ginástica.

O banco de tempo é uma iniciativa conhecida em vários países do Mundo e iniciado pelo Graal, movimento internacional de mulheres de raiz católica.

“O BTL tem agora cerca de 250 inscritos. Em Lisboa e Porto, meios urbanos grandes em que ninguém se conhece nem se presta a fazer favores a ninguém, são necessários mais bancos de tempo, só esta seria a solução para que as pessoas mudassem a sua mentalidade e fossem criadas redes de ajuda, fomentando uma sociedade mais coesa e fraterna”, conclui Irene Silva.

PRE/SN/OC

 

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top