Igreja tem de ir além da resolução dos problemas sociais e atacar as suas causas, sublinha presidente da Cáritas Portuguesa
Fátima, Santarém, 28 mai 2012 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa considera que as boas intenções deixaram de ser suficientes para assegurar a solidariedade e frisa que a Igreja Católica deve investir na “capacitação técnica”.
“Passou o tempo em que muitos julgavam que para praticar a caridade bastava ter um bom coração”, afirmou Eugénio Fonseca à Agência ECCLESIA, no âmbito da apresentação do primeiro conjunto de materiais formativos da instituição, realizada este sábado em Fátima.
O responsável realçou que o instrumento é destinado aos agentes da Pastoral Social e a quem deseje colaborar com a Igreja, “para que conheçam os fundamentos da sua ação, que é distinta de outras iniciativas de solidariedade e altruísmo e que não se identifica com o serviço social”.
O responsável sublinhou no entanto que os agentes da Pastoral Social têm de evitar o excesso de influência da formação técnica: “Não podemos mais entender uma ação social que fique apenas na preocupação de responder aos problemas; temos de ir às suas causas e, num dinamismo de libertação, tornar as pessoas mais humanas”.
“O agente da Pastoral Social é um portador de sementes da dignidade humana”, destacou o presidente da Cáritas, acrescentando que o lançamento dos novos manuais responde aos requisitos propostos pelo Papa Bento XVI na sua primeira encíclica, ‘Deus caritas est’ (Deus é amor).
Eugénio Fonseca salientou que a Igreja tem oferecido ampla formação sobre o assunto, embora “muito dispersa”, pelo que a transmissão de conteúdos essenciais “tem de ser comum a todas as dioceses”, o que não dispensa a realização de ações complementares a efetuar localmente, em resposta às especificidades de cada região.
Joana Martins, autora do módulo inaugural, dedicado à Ação Social Paroquial, referiu em declarações publicadas pelo site da Caritas Portuguesa que o conjunto de novos conteúdos é um projeto “de âmbito nacional” que pretende dar “alguma unidade em termos de espírito e prática” ao desempenho da Igreja na área da solidariedade.
A caridade, uma das dimensões essenciais da atividade das paróquias, é a que “parece estar menos apoiada em termos de reflexão”, disse ainda a licenciada em Ciências da Comunicação.
A primeira etapa da formação, lançada em papel e disponível na internet mediante a introdução de código de acesso, vai ser seguida por capítulos sobre “atendimento de proximidade” e “eclesiologia”, área da Teologia que estuda os modelos e organização da Igreja.
O plano formativo integra-se na iniciativa ‘+ Próximo’, que visa apoiar as Cáritas das dioceses portuguesas a melhorar a eficácia da ação social católica, iniciativa que Eugénio Fonseca gostaria que chegasse “a todas as paróquias”, embora esteja consciente das dificuldades.
“Temos de ser realistas: vai demorar algum tempo. Depende da disponibilidade dos párocos”, referiu, adiantando que “os bispos percebem a pertinência do projeto e estão a acolher muito bem os objetivos que o orientam”.
O módulo inaugural da nova série de conteúdos “está pronto para ir para o terreno”, assinalou Eugénio Fonseca, que espera agora por pedidos das paróquias: “Basta haver solicitações, porque nada é para impor”.
RJM