Centro de São Cirilo e trabalho do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Unidade Habitacional de Santo António recebem galardão
Porto, 11 set 2018 (Ecclesia) – A primeira edição do prémio ‘D. António Francisco’, atribuído hoje, distingue dois projetos dos Jesuítas portugueses de apoio aos refugiados e população desfavorecida na cidade do Porto, o Centro de São Cirilo e o trabalho na Unidade Habitacional de Santo António.
O galardão é atribuído no Palácio da Bolsa, no dia em que assinala o primeiro aniversário da morte de D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, numa iniciativa da Associação Comercial do Porto, a Irmandade dos Clérigos e a Santa Casa da Misericórdia do Porto.
A distinção tem um valor de 75 mil euros e destina-se a “apoiar cidadãos que se distingam na promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, na defesa e promoção dos direitos humanos, no diálogo inter-religioso e ecuménico e na promoção da paz”.
D. Manuel Linda, bispo do Porto, referiu à Agência ECCLESIA que o galardão evoca um homem que “marcou a cidade e a diocese”, sobretudo pela “sua sensibilidade, a presença de todos os outros”.
“Este prémio, que se destina a galardoar quem está presente junto de todos, particularmente dos mais humildes, é uma ótima memória de D. António Francisco”, destacou.
“A sua memória está imensamente viva, interpela as pessoas”, concluiu D. Manuel Linda, que hoje preside a uma Missa em sufrágio pelo seu predecessor, na Catedral do Porto.
André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS-Portugal), evoca por sua vez D. António Francisco dos Santos como alguém que “inspira” o trabalho junto dos migrantes e refugiados, “num mundo onde têm surgido cada vez mais vozes de hostilidade”.
“Vozes que apelam a que se levantem muros e barreiras aos mais pobres”, acrescenta o responsável, em declarações à Agência ECCLESIA.
O falecido bispo do Porto, recorda, promoveu respostas “criativas, inovadores” no serviço às populações mais vulneráveis.
“Continua a ser uma voz atual e este prémio honra-nos muito, pelo que queremos atualizar aquilo que D. António Francisco nos legou como mensagem”, observa André Costa Jorge.
O JRS está presente há vários anos no Centro de Instalação Temporária para migrantes em situação irregular, a Unidade Habitacional de Santo António (UHSA), no Porto, responsabilidade do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), na sequência de um Protocolo de Colaboração entre o Ministério da Administração Interna/SEF e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A presença concretiza-se no trabalho de técnicos e voluntários junto de pessoas que vão sair do território nacional.
“Estas pessoas enfrentam, muitas vezes, o fim dos seus sonhos, o fim e a frustração dos seus projetos, daquilo que esperavam encontrar, pelo que o trabalho é tão ou mais difícil, na medida em que é necessário ajudar estas pessoas a reconstruir as suas vidas e reconstruir a esperança”, refere o diretor do JRS-Portugal.
A UHSA tem capacidade para alojar 30 adultos e seis crianças e alberga pessoas que receberam uma ordem de afastamento do país, por estarem em situação irregular, e que aguardam a efetivação da medida.
O prémio ‘D. António Francisco’ é visto como reconhecimento por um “trabalho silencioso” junto da população do UHSA, um dos projetos em que o JRS-Portugal está envolvido, no acompanhamento de migrantes e refugiados.
“Neste momento estamos preocupados com todos os refugiados que estão à espera e que Portugal se comprometeu a acolher”, conclui André Costa Jorge.
A distinção chegou também ao Centro São Cirilo, uma comunidade de inserção criada pelos jesuítas no Porto que acolhe e capacita pessoas e famílias estrangeiras e nacionais a passar por fase temporária de fragilidade social (pessoas despejadas das suas casas, sem-abrigo que querem sair da rua e encontrar trabalho, estrangeiros que perdem o emprego e sem retaguarda familiar de suporte, etc.).
A instituição oferece refeições, gabinete de emprego, gabinete médico e jurídico, apoio psicológico, tudo para ajudar a “reintegrar” estas pessoas na sociedade.
O padre Luís Ferreira do Amaral, jesuíta, refere à Agência ECCLESIA que recebeu a notícia da distinção com “surpresa” e “alegria”, como uma confirmação do trabalho realizado, “ainda para mais sendo a primeira edição deste prémio, associado a um bispo que foi tão amado e apreciado pela população do Porto”.
Dá-nos mais visibilidade e permite que a nossa missão seja desenvolvida com maior facilidade, quer diante do público em geral, quer junto dos organismos com quem trabalhamos, públicos e privados”.
Desde a abertura oficial, a 4 de janeiro de 2010, o Centro já ajudou mais de 7500 pessoas de 114 nacionalidades e conseguiu mais 400 colocações de emprego.
Um trabalho “muito gratificante” e que se apresenta com “grandes desafios”, assinala o padre Luís Ferreira do Amaral, que destaca a importância do valor monetário do prémio.
“Temos sempre dificuldades financeiras”, admite.
D. António Francisco dos Santos faleceu a 11 de setembro de 2017, aos 69 anos, na Casa Episcopal da Diocese do Porto, na sequência de um problema cardíaco.
HM/OC
Notícia atualizada às 19h15