Diácono Luís Rodrigues sublinha dificuldades financeiras das Instituições, agravadas pela pandemia, e diz que ainda há gente com medo
Lisboa, 19 fev 2022 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Arquidiocesana de Évora lamentou o afastamento do poder político, em relação às populações do “Alentejo profundo”, reconhecendo dificuldades em chegar a todas as pessoas, particularmente durante a pandemia.
“As pessoas estão isoladas, ainda com medo, muitas delas. Nós, inclusivamente, temos alguma dificuldade a chegar a todas”, refere o diácono Luís Rodrigues, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.
O responsável realça que muitas das populações do território alentejano estão “muito longe dos centros urbanos”.
“Vive lá gente que tem necessidades, muitas das quais nem sequer estão inventariadas”, adverte, convidando as autoridades políticas a “potenciar o funcionamento das instituições, conhecedoras do terreno”, para que possam exercer o seu trabalho com “maior profundidade”.
O presidente da Cáritas de Évora manifesta “alguma reserva” face à implementação de qualquer forma de regionalização, embora tivesse esperança de que a mesma “pudesse ser uma forma de ter o poder político mais próximo das populações”.
Questionado sobre os planos de combate à pobreza, o diácono Luís Rodrigues sustenta que é necessário “perceber os problemas das pessoas e encontrar formas de as ajudar”, indo além do mero assistencialismo.
O responsável lamenta que muitas Instituições de Solidariedade se encontrem em situação limite, considerando que as comparticipações do Estado são “insuficientes”, em particular com o aumento das despesas provocado pela pandemia.
“Todas as que conheço, e aquelas onde estou – e estou na direção de sete instituições – têm dificuldades de recrutamento. É um problema muito grave que, a continuar assim, não sei como vamos resolver”, adverte.
O Estado nunca assumiu verdadeiramente que as instituições prestam um serviço que é da responsabilidade do Estado”.
Luís Rodrigues fala ainda das dificuldades em recrutar pessoal, num setor ainda marcado pelos baixos salários.
“As instituições estão neste espartilho, porque não têm disponibilidade para pagar mais, porque se tivessem poderiam eventualmente subir um pouco os vencimentos, mas a verdade é que estão com imensas dificuldades, até para pagar o salário mínimo”, indica.
O responsável recorda que, em muitos casos, as IPSS são os principais empregadores de localidades mais isoladas e a primeira resposta para as necessidades da população.
Quanto à Cáritas Arquidiocesana de Évora, esta encontra-se a ajudar mais de 1500 famílias, atendendo a situações resultantes de doença crónica, desemprego e baixos rendimentos.
“Estas preocupações têm motivado a Igreja a levar ajudas, a identificar situações de carência, porque às vezes as pessoas vivem uma pobreza dita envergonhada”, indica o entrevistado.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)