Solidariedade: Igreja voltou a ser a primeira a responder à crise e Governo repetiu demora na ajuda social

Presidente da Caritas Portuguesa diz que experiência adquirida há 20 anos na península de Setúbal é exemplar no combate às atuais dificuldades

Lisboa, 20 jul 2011 (Ecclesia) – A crise social que afeta Portugal recorda as dificuldades sentidas há 20 anos na península de Setúbal, voltando a repetir-se a primeira reação da Igreja e a demora na resposta do Governo, assinala o presidente da Caritas Portuguesa.

“O poder político da altura resistiu muito em reconhecer a situação, como agora está a suceder, o que foi pena”, salienta em entrevista à ECCLESIA Eugénio Fonseca, que ao tempo dirigia a Caritas setubalense, cargo que mantém juntamente com a direção da estrutura nacional.

“Essa falta de reconhecimento atempado da gravidade da situação levou a que o bispo de Setúbal [D. Manuel Martins] tomasse a atitude de criar um fundo de solidariedade”, acrescentou o responsável por um dos mais importantes organismos católicos de apoio aos desfavorecidos.

Eugénio Fonseca sublinha que a “persistência da denúncia” por parte da Igreja e a aplicação de “atitudes proféticas para acudir às situações” contribuíram para colmatar “durante muito tempo as necessidades mais elementares das largas centenas de pessoas que ficaram repentinamente no desemprego”.

O responsável está convencido de que a intervenção dos católicos nos anos 90 esteve na base dos financiamentos da União Europeia, que viriam a “dar origem à construção de grandes empreendimentos industriais, como a Autoeuropa”, fábrica de automóveis que é atualmente a segunda maior exportadora portuguesa.

A consolidação dos apoios por parte da Igreja e do Estado “criou um ânimo diferente nas pessoas, porque depois de verem satisfeitas muitas das suas necessidades passaram a encarar o futuro com mais esperança, e é isso que urge neste momento”, frisa Eugénio Fonseca.

O presidente da Caritas ressalva que a situação social portuguesa tem uma escala distinta da que ocorreu na região de Setúbal mas as soluções devem assentar num modelo idêntico: “Os contextos são diferentes mas a metodologia pode ser a mesma, particularmente na resposta às carências básicas”.

Para Eugénio Fonseca, o “segredo” da cooperação alcançada há 20 anos entre a Igreja, sindicatos, instituições da sociedade civil e organismos do Estado consistiu em “esquecer ideologias” e “interesses particulares”.

PTE/RM

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Agência ECCLESIA

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