Fim das privações não se vai conseguir com «esmola burguesa, muitas vezes branqueadora de capital», diz diretor da CAIS
Lisboa, 17 abr 2013 (Ecclesia) – O deputado socialista Alberto Martins e o bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, elogiaram esta terça-feira o trabalho dos católicos contra a pobreza, intervenção que para o teólogo Henrique Pinto está aquém do desejável.
“A Igreja não pode apenas abraçar e beijar, deixando as pessoas como estão. O abraço e o beijo da Igreja deve retirá-las da miséria”, afirmou o diretor da revista ‘CAIS’ à Agência ECCLESIA, acrescentando que os católicos devem estar “contra uma economia que não é inclusiva” porque “serve os ricos” e “abusa dos pobres”.
Em declarações à margem do Seminário ‘Pobreza e Direitos Humanos’, que decorreu esta terça-feira na Assembleia da República, em Lisboa, Henrique Pinto frisou que “a Igreja não pode desistir do seu lado profético”, pelo que tem a obrigação de “apontar caminhos”.
“A Igreja não tem de ter medo de acabar na cruz. Por vezes é isso que lhe falta: fazer o próprio caminho que Cristo fez. Precisamos de ver uma Igreja crucificada, porque quando isso acontece estamos a ver uma Igreja que fez o que devia ter feito”, vincou.
Ainda que deva “ser isenta e independente de qualquer partido”, a Igreja é chamada a “jogar com toda a força de que é capaz no espaço político, que também é seu”, acrescentou.
Segundo Henrique Pinto o fim da “pobreza persistente” não se consegue com “a esmola burguesa, muitas vezes branqueadora de capital”, nem com diagnósticos, de que “está este mundo cheio”, mas com a obrigação de “abolir e ilegalizar” a privação de bens e condições de vida.
“Acreditamos veementemente que a miséria se combate pela capacitação e pelo trabalho”, acentuou.
Para o deputado Alberto Martins “é muito importante a Assembleia da República ter consciência da necessidade de debater a questão da pobreza, que se tem vindo a agravar com medidas recessivas”.
“Não é possível uma sociedade livre, justa e solidária, como a Constituição Portuguesa exige, com níveis de pobreza que são dramáticos, até porque a realidade é muito pior do que as estatísticas”, sustentou.
Depois de se declarar “agnóstico”, o presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas salientou o “papel muito importante da Igreja Católica” no combate à pobreza.
“Todos nós temos um grande respeito e reconhecimento” pela Igreja, observou, acrescentando que a instituição “tem sido estruturante da solidariedade” em Portugal, “fazendo muitas vezes um papel que o Estado está a cumprir de forma inadequada”.
O bastonário da Ordem dos Advogados também realçou a ação da Igreja em favor das pessoas mais carenciadas: “Presto a minha homenagem aos milhares de católicos que, movidos unicamente pelos impulsos mais puros da sua fé, dedicam muita da sua vida aos outros”.
António Marinho Pinto lembrou que “os pobres têm direito a aceder ao tribunal”, bem como a serem “ouvidos” e “respeitados”, como as pessoas “mais ricas”, igualdade de circunstâncias “que não existe plenamente em Portugal”.
“Não podemos ficar indiferentes perante os mais vulneráveis, que necessitam de quem os defenda”, salientou por seu lado João Martins, membro da direção da Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento, entidade que organizou o seminário.
RJM