Bispos apelam à humanização da sociedade
Lisboa, 14 Fev (Ecclesia) – Vários responsáveis da Igreja Católica em Portugal manifestaram o seu repúdio pela sucessão de casos de idosos encontrados mortos, muito tempo após o falecimento, na sua própria casa.
D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, afirmou, por seu lado, que episódios como este devem envergonhar a sociedade.
“Cada caso é mais um caso que nos envergonha, como sociedade, como cristãos, como vizinhos uns dos outros, mas é urgente que – já que a família falha – que nos organizemos para não deixar que haja pessoas que fiquem tanto tempo sem ninguém à sua espera”, disse à RR o bispo auxiliar de Lisboa.
Em Faro, o bispo do Algarve pediu se ponha “travão” a estes casos.
D. Manuel Quintas falava na homilia da Missa celebrada no Hospital de Faro, no âmbito do XIX Dia Mundial do Doente, a 11 de Fevereiro.
“Se não temos essa capacidade e o discernimento para fazer uma hierarquia de valores, de olhar para a nossa vida e para a vida dos outros com amor, não conseguimos aperceber-nos que esta sociedade, que estamos a construir, pode ser uma sociedade desumana”, alertou.
Também o proefessor de teologia da UCP, Juan Ambrosio, que proferiu uma conferência antes da missa, se referiu à descoberta do cadáver da idosa.
“Que sociedade, a nossa, que só descobre nove anos depois que uma pessoa estava morta na cozinha… por mais explicações que isso possa ter”, lamentou, indicando que isto só acontece porque a sociedade “afastou a morte do seu horizonte”.
D. António Vitalino, bispo de Beja, refere na sua nota semanal para a «Rádio Pax», enviada à Agência ECCLESIA, que “a organização da Europa e da sociedade precisa de se apoiar mais nos cidadãos concretos, com a sua história, as suas raízes, os seus costumes e instituições naturais, culturais e religiosas”.
“Existe um voluntariado natural na família, nas organizações religiosas, nas tradições populares, que deve ser apoiado, pois está mais próximo de cada pessoa, dá mais satisfação aos envolvidos e é menos oneroso para o erário público”, aponta.
Na capital portuguesa, o cardeal-patriarca celebrou no último Domingo uma missa na capela do Hospital de Santa Maria, na qual recordou, entre outros, o caso da idosa descoberta no seu apartamento na Rinchoa, Sintra, oito anos e meio após ter sido vista pela última vez.
“Os dramas continuam a existir neste nosso mundo”, disse.
Na última terça-feira, o corpo de uma mulher que terá falecido há oito anos e meio foi encontrado no seu apartamento da Rinchoa, Sintra, pela nova proprietária do imóvel, que o adquiriu num leilão realizado pelas Finanças.
No sábado, dia 12, foi encontrado o corpo de reformado do Exército, de 71 anos, na casa onde vivia sozinho, em Balsas, Febres, concelho de Cantanhede.
Nesse mesmo dia, um homem de 80 anos foi encontrado morto, em sua casa, em São Mamede Infesta, em Matosinhos.
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