Solidariedade é o futuro da Europa

Conclusões dos Dias Sociais que decorreram na Polónia apelam a uma economia ao serviço de todos

O desafio da solidariedade na Europa cumpre-se pela solidariedade entre gerações, no seio da Europa e entre a União Europeia e o resto do mundo. É nessa tripla dimensão que os participantes nos primeiros Dias Sociais Católicos para a Europa afirmam a necessidade de manter o ideal de solidariedade, que esteve na base da União Europeia

Promovidos pela COMECE (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia), a Mensagem Final do encontro adverte para a necessidade de “colocar a economia ao serviço de todos, reconhecendo o valor do trabalho humano em todas as suas formas”, incluindo o não remunerado. Na reconfiguração da economia social de mercado da Europa, os participantes neste Encontro pedem a protecção dos mais vulneráveis, a igualdade de oportunidades, a redução da pobreza e da exclusão “mediante medidas mais eficazes” e a implementação de uma “política comum europeia sobre a imigração e o direito de asilo, reconhecendo a dignidade humana dos migrantes e consequentemente os direitos e os deveres que estão na base de integração”.

No domínio da economia e do mercado, os Dias Sociais Católicos para a Europa sugerem, na Mensagem Final, a promoção de uma “política de regulação do sistema financeiro a nível comunitário”, a atenção aos países em vias de desenvolvimento cumprindo “as promessas feitas” e promovendo o “co-desenvolvimento com os países mais pobres, especialmente os do continente africano”. “O desenvolvimento de práticas de comércio justo, tanto ao nível nacional como europeu” é também uma sugestão saída deste Encontro.

Na base de medidas económicas e sociais que promovam a solidariedade está a promoção e a protecção do “modelo familiar” fundado sobre o casamento entre um homem e uma mulher” e de condições que permitam aos pais “cuidar dos filhos e harmonizar a vida familiar e profissional”. Os “modelos de vida pessoal e o crescimento económico” devem também ser reorientados de forma a “reduzir a nossa pegada ecológica” e “o consumo de recursos naturais não renováveis, para que deixemos às gerações futuras um planeta habitável”.

Das ideias à força dos locais

As várias propostas avançadas nos primeiros Dias Sociais Católicos para a Europa têm por objectivo “renovar uma estratégia sobre o bem comum”, pelo contributo pessoal de cada um e das instituições públicas, tendo por base dois princípios: o da solidariedade e o da subsidiariedade.

O princípio da solidariedade deve orientar tanto as “actividades económicas”, como o respeito pela “dignidade inalienável da vida humana”, o acolhimento de quem é estrangeiro ou das gerações futuras.

Ao longo de três dias, o encontro da cidade polaca de Gdansk manteve presente a memória do Papa João Paulo II e o seu apelo – “não tenham medo” – que marcou o início do seu pontificado e também a sua primeira viagem à Polónia.

“Não temos medo: a solidariedade funda o nosso futuro comum. A unidade da Europa é um sonho de alguns. Ela tornou-se uma esperança para muitos. Hoje, é o nosso dever assegurar que continua a servir os objectivos de uma solidariedade global”, afirma-se na Mensagem Final. E acrescenta-se: “não nos podemos afundar numa apatia e num novo niilismo. Precisamos de colocar a nossa confiança nas capacidades criativas dos homens para construir uma Europa fundada sobre esses valores”.

[[i,d,621,Dias Sociais para a Europa – Polónia]]O apelo ao desenvolvimento integral acontece, para os participantes neste encontro, no contexto de uma vocação própria, a cristã, aberta à transcendência. “A Europa tem falta de homens e mulheres educados na fé, prontos para estender a mão ao seu próximo, em nome de Jesus Cristo, e todos comprometidos com a construção de relações e de instituições de solidariedade, ao serviço das pessoas de hoje e para o bem das gerações futuras”. Nós queremos prosseguir o diálogo e o trabalho em comum com homens e mulheres de outras convicções tendo em vista o bem comum”, escreve-se na Mensagem Final.

O “projecto de paz, de liberdade e de progresso” para a Europa, «concebido» na morte de mais de 60 milhões de pessoas durante a II Grande Guerra, foi evocado no local onde se ouviram os primeiros tiros desse “conflito mais assassino da história”, em Westerplatte. Os participantes nos primeiros Dias Sociais Católicos para a Europa estiveram nesse local para evocar os que perderam a vida, da Polónia e de outros países, confirmar as expectativas do projecto da União Europeia e rezar ecumenicamente pela paz no mundo.

O debate sobre o desafio da solidariedade na Europa aconteceu também pela memória do combate dos trabalhadores e dos intelectuais para devolver ao trabalho “a sua dimensão humana e social” e da persistência do Movimento Sindical Solidarnosc, que reuniu muitos pequenos contributos de luta pela liberdade rumo à queda da cortina de ferro e à reunificação da Europa.

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