Insegurança, medo de represálias e vergonha dos idosos impedem implementação do projeto «Casa dos Vizinhos», diz padre José Maia
Porto, 27 jan 2012 (Ecclesia) – A solidão dos idosos é um “submundo dramático” onde o medo é o principal obstáculo à ajuda, disse hoje o padre José Maia, responsável por projetos de combate à pobreza, da Fundação Filos.
“Eles (os idosos) não querem que se saiba que estão sós, têm medo que os mandem para um lar; outros receiam que a família não goste que se saiba e os deixe de visitar; ou temem a insegurança e por isso não abrem a porta”, afirmou o sacerdote à Agência ECCLESIA.
Lançado em dezembro de 2011, o projeto Casa dos Vizinhos está ainda de porta fechada e 25 voluntários, os Sentinelas, aguardam poder visitar famílias e promover atividades que cada rua considere necessárias, uma resposta de “ordenamento social rua–a-rua” que quer devolver o espaço urbano aos cidadãos.
“É muito difícil referenciar as pessoas”, explicou o pároco de Nossa Senhora da Areosa, na diocese do Porto, exemplificando: “numa rua onde eu sei que há idosos pobres a viver sozinhos, jovens voluntários do projeto meteram 120 cartas nas caixas do correio com contactos disponíveis para ajudar, e curiosamente, não houve um único pedido de ajuda”.
O sacerdote falou de um “submundo dramático. Há a pobreza envergonhada mas, no caso da solidão, há o medo, porque quem tem fome vai à procura de comida e sabe-se quem é; com a solidão não se sabe”, lamenta quem há mais de um ano acompanha equipas de rua na referenciação de pessoas.
A Casa dos Vizinhos, do Movimento Comunidades de Vizinhança, quer ser um local onde “os idosos em solidão possam conviver” na sua própria rua, valorizando o espaço urbano e “humanizando a cidade”.
“Há muita gente que vai para lares e pode encontrar resposta na sua própria rua”, disse o padre Maia, que vê nas artérias do Porto “uma identidade e um espaço que pode ser melhor aproveitado”.
Nas freguesias de Paranhos e da Campanhã, a Fundação Filos referenciou 16 675 idosos a viver em pobreza, “alguns em casas degradadas e sem condições para convalescença quando têm alta do hospital”.
Para ultrapassar a dificuldade de referenciação a Casa dos Vizinhos é divulgada numa rádio local “muito escutada pela população mais idosa”, onde a Fundação Filos dispõe de um programa ao sábado de manhã, permitindo “criar canais de confiança com o ouvinte”.
A Polícia de Segurança Pública, os comerciantes (farmácias, cafés), a Santa Casa da Misericórdia e outras instituições que trabalham com os idosos são parceiras deste projeto que quer combater a solidão.
O padre José Maia quer ainda solicitar ao Ministério da Solidariedade e Segurança Social que no envio das reformas, faça acompanhar uma carta explicando este projeto às pessoas que, afirma, “nunca será uma instituição social”.
“Que o povo de cada rua saia da indiferença e se preocupe mais com o que se passa à sua volta”, fazendo da rua “um condomínio” e dos moradores “uma família”, criando “um parentesco de vizinhança” é o desejo do padre José Maia.
Para contactar a Casa dos Vizinhos pode fazê-lo através do telefone 225 488 003.
LS