Iniciativa do Centro de Estudos de História Religiosa
Lisboa, 07 jul 2015 (Ecclesia) – As jornadas deste ano do Centro de Estudos de História Religiosa, na Universidade Católica Portuguesa, foram dedicadas à “problemática do género” e ao modo como homens e mulheres têm vivido e experimentado a religião.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor daquele organismo, ligado à Universidade Católica Portuguesa, destacou um debate que abrangeu “vários contextos históricos”, entre o século XV e os nossos dias, e que permitiu identificar quais os “mecanismos de diferenciação” existentes e o modo como eles estão “enraizados” na sociedade.
Paulo Fontes recorda que, apesar do debate que ainda hoje prossegue no seio da sociedade, e da própria Igreja Católica que nela está inserida, na base do cristianismo está também a “máxima enunciada por São Paulo”, de que “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos são um em Cristo Jesus”.
Para aquele responsável, esta ideia “abriu um horizonte de igual dignidade na radicalidade de uma compreensão religiosa que então se afirmava, e que dizia que todo o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, e era ele próprio Filho de Deus”.
No entanto, essa mesma ideia “teve ao longo da história diferentes concretizações”.
“As vozes das mulheres no todo da sociedade nem sempre estiveram presentes, e isso vem também de uma cultura que vem de outras configurações e tradições que a história foi definindo. É um debate que ainda está em aberto”, complementou.
Subordinadas ao tema “Género e interioridade na vida religiosa: conceitos, contextos e práticas”, as jornadas do CEHR da UCP deram destaque a questões como “as mulheres orantes e as poéticas do género” e “os pressupostos e limites da clausura monástica na Época Moderna”.
Durante o evento foi também apresentada a obra “Vozes da vida religiosa feminina: experiências, textualidades e silêncios (séculos XV-XXI) ”.
Um livro compilado através das conclusões das jornadas de estudo do CEHR de 2013, intitulada “Formas de vida religiosa, identidades e pertenças” e que pretendeu revisitar “as vozes das mulheres que”, na vivência religiosa, “têm estado particularmente ausentes, tanto por razões historiográficas como por razões propriamente históricas”.
Maria Filomena Andrade, que participou na realização da obra, explicou que a preocupação “não foi procurar aquilo a sociedade em geral diz sobre as mulheres, mas aquilo que as mulheres dizem sobre si próprias e pelo seu próprio punho, em Igreja e no catolicismo em particular”.
“E realmente foi uma enorme riqueza e uma aposta ganha”, complementou.
A análise foi além da inserção da mulher na religião ou na vida consagrada, estendendo-se à sua atividade social e política, recorrendo para isso por exemplo ao legado de Maria de Lurdes Pintassilgo (1930 – 2004), o seu papel na Igreja Católica e na política portuguesa, como a única mulher que desempenhou no país o cargo de primeiro-ministro.
JCP