Sociedade: Silenciar o Natal no espaço público é «esvaziar a matriz humanista» de Portugal

Patriarca de Lisboa lembrou na Missa do Galo que, no presépio, «não nasceu uma ideia», mas «uma vida» 

Foto Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 25 dez 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa afirmou hoje que o Natal é “uma escola de humanidade” e denunciou quem o tenta “apagar ou silenciar”.

“Em alguns contextos da nossa sociedade, procura-se apagar ou silenciar o Natal no espaço público — nas escolas, em instituições civis — com o argumento de não ferir sensibilidades de quem não partilha a fé cristã”, afirmou.

Para D. Rui Valério, a “intenção pode parecer inclusiva”, mas “é preciso dizê-lo com clareza e serenidade: esvaziar o Natal é esvaziar a própria matriz humanista que tornou Portugal uma terra de acolhimento, de dignidade e de oportunidades”.

Estes valores não são uma ameaça a quem chega; são precisamente a razão pela qual tantos chegam. Retirar do espaço comum o presépio de Belém — símbolo do acolhimento da vida frágil, da família pobre, do Deus que Se faz próximo — é correr o risco de transformar Portugal num território funcional, mas sem alma; eficiente, mas sem coração; organizado, mas incapaz de ser porto de abrigo”.

O patriarca de Lisboa lembrou que “o Natal não é uma evasão espiritual”, antes uma “escola de humanidade”.

“Ensina-nos a viver de outro modo, a construir relações mais verdadeiras, a organizar a sociedade com base no primado da pessoa e não do lucro, da vida e não da conveniência”, acrescentou.

D. Rui Valério disse que “Portugal não é procurado apenas pelo seu clima ou pela sua geografia”, mas também “porque, ao longo dos séculos, se estruturou sobre valores profundamente enraizados na fé cristã”, indicando o “cuidado da fragilidade”, o “reconhecimento da dignidade de cada pessoa”, a “centralidade da família”, a “opção preferencial pelos pobres”, a “convicção de que ninguém é descartável”.

O patriarca de Lisboa lembrou também que o Natal recorda “que a paz, tão desejada e tão frágil, não nasce de equilíbrios de força, mas de um dom que se recebe”, e referiu-se à família como “lugar onde a vida é recebida, protegida e afirmada, mesmo quando o mundo não tem lugar para ela”.

A família continua — e tem de continuar — a ser o lugar onde a vida surge, cresce e se afirma; onde a pessoa é acolhida não pelo que produz, mas pelo que é; onde se aprende a linguagem do amor, da paciência, do perdão e da esperança. Uma sociedade que fragiliza a família fragiliza, inevitavelmente, o seu próprio futuro”.

D. Rui Valério sublinhou que, no Natal, “não nasceu uma ideia, nem um sistema, nem uma solução técnica para os problemas do mundo”, mas “nasceu uma vida”. “O Filho de Deus entra no mundo quando não há lugar: quando a lógica económica está saturada, quando o poder está ocupado consigo mesmo, quando a pressa e o cálculo não deixam espaço para a vida”, sublinhou.

O patriarca de Lisboa desejou que a celebração da Noite de Natal “não seja apenas tradição, mas fundamento”, “não seja apenas celebração, mas compromisso”.

PR

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