Centro Comunitário São Cirilo promoveu o debate «Migratalks – O sonho de uma imigração saudável»
Porto, 14 jun 2025 (Ecclesia) – O Centro Comunitário São Cirilo promoveu hoje um dia de reflexão em torno do tema da imigração para ouvir a experiência de quem chega a Portugal, distanciar-se da “bolha emocional” potenciada pelas redes sociais e “trocar os medos por sonhos”.
“Vivemos muitas vezes debaixo de medo: medo que a nossa cultura vá desaparecer, medo que os empregos desapareçam, medo de que não haja habitação, uma série de medos e é preciso saber trocar os medos, reconhecendo as dificuldades evidentemente, mas sobretudo saber trocar os medos por sonhos”, disse o padre Nuno Tovar de Lemos à Agência ECCLESIA.
Para o sacerdote jesuíta, que é presidente da direção do Centro Comunitário São Cirilo, é necessário alimentar o “sonho de uma sociedade onde haja espaço para a diferença e onde haja união na diferença, sonho de uma sociedade mais humana, sonho de uma sociedade que dê a mão a quem precisa, sabendo até que, nesse dar a mão, nós próprios até ficaremos a ganhar, mas mesmo que não ficássemos”.
O debate promovido pelo Centro Comunitário São Cirilo, uma instituição da Companhia de Jesus, sediada no Porto, decorreu durante o dia de hoje, organiza, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em torno do tema “Migratalks – O sonho de uma imigração saudável”.
“A palavra sonho é aqui absolutamente crucial neste dia”, sublinhou o padre Nuno Tovar de Lemos.
O presidente da direção do Centro Comunitário São Cirilo lembrou que “nem toda a imigração é saudável”, nomeadamente “formas de receber sem saber integrar”, “formas de receber e depois de deixar de um lado ‘eles’ ao contrário de ‘nós’”.
Lembrando que “as redes sociais e a comunicação social são essenciais para transmitir informação”, o sacerdote jesuíta referiu que muitas vezes “é fácil criar uma bolha emocional para determinados lados”, a partir de pequenos vídeos e até “com base em histórias reais muitas vezes” que são “facilmente empoláveis” e determinam a opinião das pessoas sobre o tema da imigração.
“O consumidor da informação tem que saber não acreditar em tudo o que vê ou relativizar ou pôr em contexto imagens que vê”, apontou, acrescentando que os 300 participantes no encontro querem “a saber o que é que está a passar mesmo para ter um contexto de consumo de informação”.
O encontro “Migratalks – O sonho de uma imigração saudável” reuniu investigadores do tema da imigração em Portugal e convocou mulheres e homens que chegam a Portugal para “dar o seu testemunho” e partilhar “de viva-voz” as razões e a experiência de chegar a outro país.
A reflexão em torno da imigração foi promovida pelo Centro Comunitário São Cirilo que, já 15 anos, desenvolve um “trabalho prático” para “ajudar imigrantes a ficarem autónomos” através de serviços de apoio jurídico, na procura de emprego e nos processos de autonomização.
O imigrante não deve gerar medo, deve gerar esperança Pedro Góis, diretor do Observatório das Migrações, disse à Agência ECCLESIA que o imigrante “não deve gerar medo, deve gerar esperança” e alertou para a necessidade de “comunicar melhor os fatos” para combater a “fobia social”. “O medo, enquanto fobia social, o medo do outro, tem que ser vencido pelos factos, não há outra possibilidade, porque ele é irracional! Não faz sentido acreditarmos em algo que não existe”, afirmou. O responsável pelo Observatório das Migrações foi um dos oradores do “Migratalks”, que decorreu este sábado em Matosinhos, no Porto, e valorizou a oportunidade de dialogar “com tempo” sobre o tema e fora da capital portuguesa. “Este tema deixou de ser um tema de Lisboa e hoje é um tema do país. Estarmos em Matosinhos também tem a sua importância que é a concretização desta ideia de que as migrações são hoje um desafio para todo o país e já não um desafio para aquelas áreas que até há pouco tempo eram tradicionalmente as áreas de imigração”, apontou. Pedro Góis disse que não há razão para ter medo porque os portugueses não estão a “ser invadidos” e a sociedade portuguesa não está “a caminho do caos”. Há uma migração que é normal no mundo contemporâneo”, afirmou o investigador, lembrando que os portugueses “fazem parte da história das migrações há muitos séculos” e que os imigrantes são “pessoas iguaizinhas” aos cidadãos do país que os acolhe, que circunstancialmente são obrigados a “tentar construir uma vida melhor para eles próprios e para as suas famílias” fora da geografia onde nasceram. |
CB/PR