Dados foram analisados pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da EAPN
Lisboa, 17 out 2023 (Ecclesia) – A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) adiantou que Portugal “continua a ter mais de dois milhões de pessoas em pobreza ou exclusão social”, de acordo com um relatório da organização.
Os dados foram analisados pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da EAPN Portugal e integram o documento Pobreza e Exclusão Social em Portugal 2023, baseado num inquérito de 2022.
Em comunicado, a organização refere que “cerca de dois em cada dez portugueses estão ou em situação de risco de pobreza (com um rendimento inferior a 551 euros mensais) ou em privação material e social severa ou vivem em agregados onde se trabalhou em média menos de 20% do tempo de trabalho potencial (intensidade laboral muito reduzida)”.
Em 2022, uma em cada cinco pessoas da população residente em Portugal estava em risco de pobreza.
Numa nota enviada à Agência ECCLESIA, a organização alerta que “os dados deste relatório não olham para o momento atual e não conseguem espelhar o aumento do custo de vida”.
“Há um empobrecimento da população causado pelo aumento do custo de vida e das taxas de juros que é invisível nos dados oficiais”, acrescenta o documento.
Segundo o relatório, “quanto menor o rendimento do agregado familiar, maior será o peso que os custos com habitação, com energia e com alimentação terão no orçamento familiar”.
Apesar de os dados analisados corresponderem ao ano de 2022, os rendimentos analisados são referentes ao ano de 2021.
Sobre os mais vulneráveis ao risco de pobreza ou exclusão social, a EAPN Portugal revela no relatório que, desde 2015, o perfil destes grupos “pouco ou nada se alterou”.
Desta forma, no ano de 2022, mantiveram-se como grupos mais vulneráveis os desempregados (60.1%); outras pessoas fora do mercado de trabalho (excluindo desempregados e reformados) (35.5%); as famílias compostas por apenas um adulto e pelo menos uma criança dependente (35.7%), entre outros.
A organização destaca ainda que as mulheres e as famílias com filhos, nomeadamente as famílias monoparentais e as numerosas, “são as que mais acumulam um maior risco de pobreza ou exclusão social e maior risco de pobreza monetária”.
Os desempregados são o grupo que apresenta taxas mais elevadas nas dimensões de risco de pobreza ou exclusão social (60,1% dos desempregados), risco de pobreza monetária (43.2%), e agregados com intensidade laboral muito reduzida (34,6%).
No entanto, a população empregada também apresenta fragilidades. De acordo com o inquérito de 2022, 12,2% dos trabalhadores estavam em risco de pobreza ou exclusão social e 10,3% em risco de pobreza monetária, adianta ainda o comunicado.
A propósito do dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que hoje se assinala, a Rede Europeia Anti-Pobreza destaca que “a situação nacional não é otimista”, embora os números oficiais “digam que a taxa de risco de pobreza não aumentou”.
“Estamos inquietos perante a subida constante do preço da habitação, a sua escassez, o crescimento da emigração jovem qualificada, a baixa taxa de natalidade e o índice de envelhecimento da população portuguesa”, indica a organização, que realça ainda que “a pobreza e a exclusão social são uma negação dos direitos humanos”.
LJ/OC