Sociedade: Populismo alimenta-se de discursos de «ódio», que promovem «medo» – Rui Marques

Presidente do Instituto Padre António Vieira sublinha importância de celebrar dia da Fraternidade Humana, elogiando ação do Papa Francisco

Rui Marques – www.facebook.com/ruimarques.forum

Lisboa, 04 fev 2024 (Ecclesia) – Rui Marques, presidente do Instituto Padre António Vieira (IPAV) e antigo Alto-Comissário para a Imigração, em Portugal, alertou para o aumento de discursos populistas que se alimentam do “medo”.

“O discurso de ódio, seja face àquele que é estrangeiro, face àquele que é de outra religião, face àquele que tem outra identidade étnica ou cultural, é terrível e, infelizmente, vai ganhando espaço cada vez mais crescente nas sociedades europeias”, assinala o convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

O presidente do IPAV afirma que os populistas constituem “uma ameaça muito séria à democracia” e “exploram todas as oportunidades que têm para gerar um sentimento de medo”.

“Compete aos democratas, aos humanistas, aos homens e mulheres de boa vontade, construir soluções que reduzam o medo, que tragam para toda a comunidade autóctone e imigrante, um sentimento de segurança, um sentimento de encontro, um sentimento de diálogo”, acrescenta.

Nós não podemos perder na Europa essa capacidade de encontro entre perspetivas diferentes, em que fazemos da diversidade uma força capaz de nos mobilizar para a construção, um futuro comum.

O antigo Alto-Comissário para a Imigração fala em “tempos mais difíceis”, nesta campo, lamentando que faltem em Portugal “políticas robustas, sustentáveis, que sabem trabalhar” no acolhimento e integração de imigrantes.

“Nós precisamos de ter políticas de acolhimento e integração de imigrantes que gerem segurança na opinião pública, que gerem a noção de fronteiras controladas e, sobretudo, que promovam o acolhimento e a integração, não deixando, por exemplo, pessoas no limbo quanto à sua situação documental durante meses infinitos”, insiste.

Rui Marques considera que o Estado tem obrigação de cumprir regras, “nomeadamente os prazos que ele próprio impôs”, dado que “não há acolhimento e integração sem a correspondente estrutura legal”.

A conversa aborda ainda o “Dia Internacional da Fraternidade Humana”, declarado pela ONU; que remete para 4 de fevereiro de 2019, quando se assinou em Abu Dhabi o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, com a presença do Papa.

“O que esta declaração vem dizer de uma forma inequívoca entre católicos e muçulmanos é que não há nenhuma justificação, em nenhuma circunstância, para ser aceite algum ato terrorista”, indica o entrevistado.

Rui Marques evoca uma experiência que viveu como coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR, ao visitar o Líbano, onde encontrou uma escola, no piso zero de uma mesquita, gerida pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS).

“Num exemplo extraordinário, num dos sítios mais difíceis de conflito naquele tempo, servindo milhares e milhares de refugiados, muçulmanos e católicos eram capazes de trabalhar juntos com esta dimensão que às vezes nos falta e que precisamos sublinhar, de respeito pelas nossas diferenças”, descreveu.

O presidente do IPAV considera que o Papa Francisco é “um homem profético, com uma visão extraordinária e com uma coragem inaudita”.

Quanto ao futuro, Rui Marques admite alguns sinais “preocupantes”.

“Ao contrário do que até poderia ser de esperar por alguns, nós encontramos alguns sinais preocupantes junto das novas gerações no acolhimento, por exemplo, a argumentos xenófobos, a argumentos racistas, a argumentos de intolerância face ao outro”, refere.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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Agência ECCLESIA

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