Professor e investigador da UCP considera que a doutrina católica propõe valores «universalizáveis»
Lisboa, 12 jan 2019 (Ecclesia) – José Miguel Sardica, professor e investigador da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse que a formação de futuras lideranças políticas por parte da Igreja Católica deveria ter “maior visibilidade pública”, para contrariar a falta de participação cívica.
“Há um público jovem ligado à Igreja que está sedento de novas vozes e de sentir que a política realiza algo de útil, que a política não é apenas o conquistar um lugar, o aproveitar um ciclo”, refere o docente universitário à Agência ECCLESIA, a propósito da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2019, com o tema ‘A boa política está ao serviço da paz’.
O investigador na área da cultura, comunicação e história dá conta de “movimentações cívicas laicais de grupos de reflexão” que não têm ainda a “visibilidade política que podem ter”.
“Não é acidental que o Papa dedique um dos pontos da mensagem aos jovens em geral. E nesse sentido há mobilização cívica, social dos jovens para superar o que me parece ser um dos piores aspetos que o mundo de hoje tem: uma separação muito grande entre governados e governantes e um cada vez maior desinteresse, anomia cívica, por parte dos jovens”, precisa.
José Miguel Sardica considera que a Igreja “não se politiza, não é de direita, de esquerda ou centro”, mas tem interesse que “as opções políticas venham informadas de valores que são valores universalizáveis”.
Quando falamos em harmonia, justiça ou paz não há formação política à direita ou esquerda, a não ser nos extremos, que não concorde com este fundo. É necessário reunir uma vontade e um consenso cujo cimento, união, dinâmica, energia podem vir do ensinamento que o Papa nos dá, uma política com valores”.
A atitude a que a mensagem do Papa apela. e que os líderes da Igreja Católica em Portugal enfatizaram, vai de encontro a uma participação cívica que ultrapassa a partidarização.
“O que fazer para aumentar a solidariedade e harmonia social, combater a desigualdade, integrar minorias que não têm de ser estrangeiras? Há muitas minorias nas sociedades ocidentais de pessoas que ficaram mais pobres, não se sente representada e, em comunidade, conseguimos os consensos que hoje faltam”, precisa o entrevistado.
Questionado sobre o relevo que a opinião produzida pela Igreja Católica ganha na sociedade, José Miguel Sardica lamenta a desvalorização de um “interlocutor tão válido como outro”.
“As notas que a Igreja, através dos bispos e da Conferência Episcopal Portuguesa, são reproduzidas pela imprensa são notícia, mas são notícia num circuito limitado, não chegam à opinião pública e sobretudo, a opinião pública perdeu a noção de que a Igreja é um interlocutor tão válido como outro”, observa.
O professor acredita que ao contribuir para o bem do outro, se está “a contribuir para o bem-comum, expressão tantas vezes citada na mensagem do Papa”.
“A Igreja, quando fala, fá-lo a uma voz, uma vez que a mensagem é idêntica, e cada vez mais a presença dos leigos na política há de ajudar a criar uma corrente católica na política que não tem uma formação política única, mas pode influenciar políticas em geral”, refere.
O discurso político da Igreja conduz a entrevista ao professor e investigador José Miguel Sardica que pode ser acompanhada no programa Ecclesia, este domingo, na antena 1 da rádio pública, a partir das 06h00.
LS/OC