Sociedade: Papel do desporto também é «criar melhores adeptos»

Universidade Católica Portuguesa acolheu «reflexão aprofundada» sobre o fenómeno desportivo enquanto transmissor de valores

Lisboa, 21 mai 2015 (Ecclesia) – A importância da atividade desportiva enquanto polo de formação para os valores e para a cidadania esteve em destaque na conferência “Desporto, Ética e Transcendência”, acolhida esta quarta-feira pela Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o treinador de futebol José Couceiro abordou os acontecimentos ocorridos durante os festejos do título nacional do Sport Lisboa e Benfica, considerando que o desporto tem vindo a “descuidar” o seu papel educativo na sociedade.

Para aquele responsável, “o desporto é uma ferramenta fantástica para transmitir valores, para não só fazer desportistas, mas criar melhores adeptos”.

No entanto, é preciso que quem está à frente dos diversos setores, como o futebol de alta competição, tenha isso em conta e consiga passar devidamente a mensagem, a começar pelas “crianças e adolescentes”.

“Isto é um projeto de gerações, não é um projeto de um dia para o outro, mas acho que é a única saída que temos, saída estrutural. Claramente que em termos conjunturais há medidas que têm que ser tomadas, porque a violência não pode imperar”, salientou.

Organizada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), em parceria com o Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP, e o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, a conferência juntou responsáveis das mais variadas áreas, desde o dirigismo ao treino, passando pela arbitragem e investigação desportiva.

Realce para a presença de oradores como o professor Manuel Sérgio, investigador da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa; do antigo atleta olímpico e treinador de judo Nuno Delgado, e do escritor e ensaísta Pablo d’Ors.

O vice-reitor da UCP, padre José Tolentino Mendonça, justificou o envolvimento da instituição académica neste projeto com a responsabilidade que ela tem “em acompanhar a realidade e proporcionar uma reflexão aprofundada acerca dela”.

“É impossível não perceber a importância, a centralidade que o desporto hoje representa. É muito importante fazer estas pontes, perceber por exemplo como no desporto se mobilizam energias e dimensões humanas que vão muito para lá do entretenimento ou da competição”, sustentou. 

Para o árbitro de futebol João Capela, que também abordou esta questão para a Agência ECCLESIA, é urgente que “todos os agentes desportivos, e também o poder central, se sentem e pensem que tipo de desporto é que querem”.

Uma reflexão que, na sua opinião, tem de envolver necessariamente “o desporto escolar, as escolas, e as famílias, os pais”, que são aqueles que mais diretamente “passam os valores” mas no entanto “criam” por vezes nos seus filhos “uma pressão enorme pelo ganhar a todo o custo”.

Já o técnico João Barnabé destacou a importância de apostar mais “na formação dos formadores” desportivos e lamentou os estragos muitas vezes vindos de “pessoas não ligadas ao fenómeno”, que “emitem opiniões que não são corretas”.

Com uma vasta experiência no acompanhamento de jovens, não só no futebol de alta competição mas também de rua, com os sem-abrigo e os reclusos, o treinador frisou o contributo que o desporto pode dar para as grandes causas humanas.

“Essas são as nossas medalhas, quando nós percebemos que estamos a fazer algo de útil para o nosso semelhante. E muitas vezes isso não acontece, não se olha a meios para vencer e por isso tudo vale. E nós não pertencemos a essa equipa do vale-tudo”, apontou.

Para o futuro, o Instituto Português do Desporto, através de José Lima, responsável pelo Plano Nacional de Ética no Desporto, manifestou a sua intenção de reforçar “esta ponte” com a UCP, “com a Igreja Católica e a dimensão religiosa”.

“Também há algo de nobre, de transcendente, na prática desportiva”, concluiu.

JCP

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