Edição de 2025 do 3 Milhões de Nós junta jovens e menos jovens no desafio «É o teu tempo» e quer que participantes «abram o coração, a cabeça» e unam as mãos para «construir mundo»

Lisboa, 22 mar 2025 (Ecclesia) – O cantor e animador social Matay disse hoje que o primeiro compromisso que fez na vida foi consigo, mesmo vindo de uma família desestruturada, e que os valores “são linha de orientação” para a vida.
“O primeiro compromisso é connosco. Tantas vezes nos perdemos porque fazemos algo que alguém nos pediu. A partir de determinada idade, a responsabilidade não está nos nossos pais, mas é nossa”, contou aos participantes da edição 3 Milhões de Nós (3MN).
Natural de Chelas, cresceu numa barraca onde chovia todas as noites, Matay não tem memória de ter visto os pais juntos – “a família era desestruturada porque cada um era também desestruturado”.
“A primeira vez que abracei o meu pai foi no dia do meu casamento. Ele não tinha ferramentas para perceber o quão importante era dizer-me que gostava de mim, para me perguntar como foi o meu dia. Tive eu de fazer esse caminho para perceber o quanto o amava”, partilhou.
Matay reconhece que a sua vida começou a mudar quando se cruzou com um professor de Educação Moral e Religiosa Católica, quando mudou de escola, e percebeu que tinha voz.
“Ele deu-me voz, deixou que eu fosse capaz de dizer o que me preocupa. Às vezes não temos com quem falar, mas nessa altura, escrevam. Há uma altura que parece que temos uma distância grande aos nossos pais, mas falem com eles – aprendi isto mais tarde – falem com eles”, aconselhou.
O animador social que quando novo andava a pedir comida na rua – “hoje quando saio à rua levo comida para dar” – diz que os valores são a linha de orientação ao longo de toda a vida e que em determinada altura escolheu ter “consciência crítica”.
“Matay é o nome da minha mãe. Antes era o nome do preto das barracas, revoltava-me quando me chamavam Matay; hoje consigo colocar o nome da minha mãe no sítio onde ele deve estar. É um orgulho que sinto”, finalizou.







A edição do 3MN decorre no auditório da Aula Magna na Reitoria da Universidade de Lisboa, e é dedicado ao tema «É o teu tempo».
A irmã Missionária da Verbun Dei Núria Frau disse no início do encontro esperar que o dia seja uma oportunidade para “abrir o coração, a cabeça, unir as mãos e construir o que sonhamos”.
“Neste momento, em muitas partes do mundo trabalha-se por muita coisa que não constrói e nós estamos aqui, não somente por nós, mas para ser parte de uma sociedade, de uma Igreja que quer estar neste mundo, quer construir a paz, quer dar as mãos a todos, todos, todos, e para que seja verdade que o nosso mundo seja humano, fraterno e com vontade de viver”, convidou.
A manhã contou com a partilha de Laura Sagnier, investigadora sobre a vida das mulheres, e focou alguns números que retratam a realidade dos jovens hoje.
Kika Araújo, 24 anos, psicóloga clínica, afirmou a necessidade de escolher “todos os dias viver uma vida com sentido”, na relação e no compromisso com outros.
“A minha avó dizia-me «Tu és muito melhor do que aquilo que tu pensas» – eu sou muito mais do que uma lista de atributos, mais do que os meus sucessos e insucessos”, frisou.
Margarida Lucas Santos partilhou a sua história pessoal e percurso de reconstrução pessoal, assumindo a fragilidade que atravessou com a ajuda de terapia, da espiritualidade, da natureza e por não ter medo de procurar ajuda.
Samuel Úria, cantautor, falou sobre «Silêncio, Música e Espiritualidade» e a irmã Teresa Pinho centrou-se na «Interioridade».
LS