Sociedade: «Não nos sentimos companha do mesmo barco e locatários da mesma casa comum. A decisão pela paz implica inverter esta situação» – Cardeal Tolentino Mendonça

Vencedor do Prémio Pessoa 2023 recebeu doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro

Foto: Lusa

Aveiro, 16 dez 2023 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça defendeu esta sexta-feira, na Universidade de Aveiro, que a paz exige inverter a situação do mundo globalizado que tem “sociedades que mostram dificuldade em constituir-se como um bem que diga respeito a todos”.

“A globalização tornou-nos de facto vizinhos, mas não necessariamente solidários”, afirmou, durante a cerimónia comemorativa do 50ºaniversário da academia, na qual recebeu o doutoramento Honoris Causa.

“Não nos sentimos companha do mesmo barco e locatários da mesma casa comum. A decisão pela paz implica inverter esta situação”, pediu o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, destacando que “o ponto de partida é o basilar reconhecimento de quanto vale um ser humano, sempre e em qualquer circunstância, considerando-o precioso e digno de todo o cuidado”.

“Em nenhuma outra época da história estivemos tão próximos e partilhamos em simultâneo tantos acontecimentos”, no entanto, “continuamos a desconhecer as culturas uns dos outros, como se fôssemos irremediavelmente estranhos e distantes”, lamentou o vencedor do Prémio Pessoa 2023.

Para D. José Tolentino Mendonça, “num mundo da comunicação ainda vigora tanta incomunicabilidade”, que se constitui um limite que faz olhar o outro “como uma ameaça”.

“Cabe aqui às universidades contribuírem com a imaginação e o pensamento para identificar aquelas alianças que sustentarão um futuro mais humano e melhor. Hoje, a universidade é chamada a projetar uma cultura de diálogo, para assim reconstruirmos o tecido da sociedade. Precisamos de diálogo, de curiosidade sã uns pelos outros, de disponibilidade para a aventura do conhecimento, que é sempre uma aventura comum de inclusão”, indicou.

O cardeal partiu da palavra paz para realizar a intervenção na cerimónia, presidida pelo presidente da República, e na qual também foi homenageada Céline Simone Cousteau, ativista ambiental, palestrante internacional e documentarista, informa a Presidência da República.

D. José Tolentino de Mendonça considera que “a paz precisa urgentemente de arquitetos e artesãos”, justificando a afirmação com base na encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco.

“O conceito da arquitetura vem aplicado ao desenho macro, global, estrutural da realidade, garantido por quadros normativos e por acordos institucionais desejavelmente estáveis. Mas a arquitetura só por si não basta, pois, a vida tem, como também recorda o Papa, uma natureza laboriosa, individual, artesanal. Por isso, a paz depende também da criatividade, do empenho e do contributo de cada um”, concluiu.

A cerimónia foi ainda pautada pela condecoração da Universidade de Aveiro como Membro-Honorário da Instrução Pública Pelo chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, tendo o recebido as insígnias o Magnífico Reitor da Universidade de Aveiro, Professor Doutor Paulo Jorge Ferreira.

D. José Tolentino de Mendonça recebe o doutoramento Honoris Causa, dias depois de vencer o Prémio Pessoa 2023, que tem como objetivo “reconhecer a atividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país”.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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