Jovem de 23 anos procura que experiência de se sentir «muito amada» e «filha de Deus» possa chegar aos outros, através do trabalho social que realizou em São Tomé e Príncipe ou junto das famílias que acompanha em Portugal
Lisboa, 28 fev 2023 (Ecclesia) – Maria do Mar Calheiros é assistente social e acredita que o seu trabalho é fruto de uma vocação que lhe pede simultaneamente “proximidade” com as pessoas que ajuda e que nunca deixe de “contemplar o mundo”.
“Nós não somos assistentes sociais, nós contemplamos o mundo, dizia a madre Teresa de Calcutá. E eu acho claramente que sou os dois. Porque eu acho que os assistentes sociais têm que realmente fazer o seu trabalho e ser profissional, e há muita burocracia à mistura, mas também temos que contemplar o mundo e amar de facto as pessoas, para que verdadeiramente se convertam”, conta a jovem de 23 anos à Agência ECCLESIA.
Determinada a contribuir para que cada pessoa possa ter a dignidade e sair de uma situação de pobreza, Maria do Mar explica que a sua profissão “só pode ser uma vocação”.
“Não vejo outra maneira de trabalhar sem relação e sem uma confiança criada, o que às vezes para nós, assistentes sociais, também pode ser mau, não é? Porque demasiada relação também não é bom. Mas, com a minha idade e com a minha experiência, acho claramente que é necessário a relação e é necessário o amor também nesta relação, para que o outro também mude”, explica.
“Quando se vive na vocação, tudo se abre para os outros, ou seja, é para os outros, seja um assistente social, seja um advogado, seja um engenheiro ou um médico. Porque quando se vive uma vocação não se procura o próprio bem”, acrescenta.
Maria do Mar Calheiros esteve durante quatro meses em São Tomé e Príncipe numa experiência que afirma não ser de voluntariado mas de missão que viveu, através da ARCAR – Associação Para Reinserção de Crianças Abandonadas e em Situação de Risco, numa casa onde habitavam 50 crianças e jovens entre os seis e os 23 anos.
“A realidade que lhes alimenta os sonhos é a que chega pelo telemóvel, dos ‘TikToks’, do Facebook. Os seus sonhos passam por conseguir ir para Portugal, ter uns ténis, conseguir ter o seu dinheiro para comprar o que querem. O meu trabalho passou pela educação, procurando que eles aprendessem mas também pela liberdade, uma vez que a cultura e o contexto são muito diferentes dos meus”, explica.
Maria do Mar reconhece que a adaptação em São Tomé não foi fácil, assim como o regresso também demorou algum tempo: “Eu criei relações com aqueles miúdos, e aqueles miúdos penetraram o meu coração claramente, mas depois eu volto para a minha vida. Eu tenho uma cama, eu tenho comida. O regresso foi muito exigente, levou-me a amadurecer para perceber que é na realidade que me é dada agora, que eu tenho de trabalhar”.
Aos 13 anos, a entrada para um grupo de meninas no Movimento de Schoenstatt, e a experiência de fazer missão dentro do movimento, marcou a vida de Maria do Mar, que recorda em especial sentir-se “muito amada” porque “filha de Deus”.
“Foi a primeira experiência de sentir realmente que há alguém maior que tem a minha vida e que eu sou de alguém. O desejo de dar aos outros, no meu trabalho, não é um penso rápido para curar aquele problema daquele utente que vai ter comigo mas mostrar a beleza de que aquela pessoa tem alguém maior que cuida”, explica.
A Maria do Mar Calheiros foi responsável pela área da espiritualidade na Missão País, no ano de 2021, e recorda o ano “exigente”, quando as palavras “incerteza” e “medo” marcaram a sua vida.
A conversa com a jovem de 23 anos pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal de informação e no podcast ‘Alarga a tua tenda‘.
LS