Sociedade: Missionários Scalabrinianos alertam para «forte ligação entre o tráfico e a migração que expõe as pessoas mais indefesas»

Mensagem a propósito do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas lembra Santa Josephina Bakhita, mulher e religiosa sudanesa vítima de tráfico

Lisboa, 07 fev 2025 (Ecclesia) – Os Missionários Scalabrinianos escreveram uma mensagem para o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, que se assinala este sábado, denunciando condições a que são expostas vítimas do crime, nomeadamente os mais vulneráveis.

“Não podemos deixar de ver que há uma forte ligação entre o tráfico e a migração que expõe as pessoas mais indefesas a serem vítimas de exploração sexual, a viverem em condições degradantes da sua dignidade ou a envolverem-se em negócios ilícitos do crime organizado”, afirma o superior-geral dos Missionários Scalabrinianos no texto enviado hoje à Agência ECCLESIA.

A mensagem evoca várias “histórias de exploração e sofrimento” que se repetem “todos os dias, todos os anos”.

“Neste exato momento, uma menina em Bangladesh está prestes a ser dada em casamento a um homem adulto; um menino em Itália está a trabalhar no campo há horas, sem ter a chance de parar ou descansar; um homem está a procurar ajuda para atravessar uma das muitas fronteiras do mundo, confiando a sua vida a um traficante de pessoas”, pode ler-se.

Segundo os Missionários Scalabrinianos, esta é “uma escravidão moderna da qual 50 milhões de pessoas no mundo são vítimas, de acordo com o último relatório ‘Estimativas Globais da Escravidão Moderna: Trabalho Forçado e Casamento Forçado’, produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), Walk Free e Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Destas pessoas, 28 milhões são forçadas a trabalhar contra sua vontade e 22 milhões são forçadas a casamentos forçados; quase 70% das vítimas de tráfico são mulheres e 25% são menores de idade, indica o texto.

A mensagem, com o título “Ser embaixadores da esperança de liberdade e dignidade”, lembra a Santa Josephina, em cujo dia da morte se celebra o Dia da Oração pelas Vítimas de Tráfico, em memória da religiosa que “soube ver a presença amorosa de Deus em cada momento de sua vida”.

A Santa Josephina Bakhita era apenas uma menina de sete anos, quando foi sequestrada no Sudão e vendida como escrava, tendo carregado durante toda a vida as marcas de 144 cicatrizes no corpo, causadas por violência e maus-tratos.

Os Missionários Scalabrinianos lembram que os traumas que a religiosa sofreu foram tão graves que fizeram com que se esquecesse do verdadeiro nome e os raptores chamaram-na de Bakhita, que significa “sortuda”; em 1982, foi comprada por um cônsul italiano e levada para Veneza, onde abraçou a fé católica e decidiu consagrar-se a Deus, tornando-se freira das Filhas da Caridade.

“Hoje, mais do que nunca, somos chamados a tornar-nos ‘embaixadores da esperança’, como diz o tema deste Dia Mundial de Oração. A nossa esperança brota da certeza de que, em cada ato verdadeiramente cristão, acreditamos no extraordinário, num Deus que se tornou Homem por nós e nunca abandona ninguém”, destaca a mensagem do superior geral dos Scalabrinianos.

Os Missionários Scalabrinianos descrevem que a sua ação passa por caminhar ao lado daqueles “que sofrem sofrimentos indescritíveis”, em “casas de migrantes, onde os que são traficados encontram proteção e refúgio, em portos, paróquias, centros de escuta e centros de estudo com cursos de formação e reuniões de consciencialização sobre questões de migração”.

Além disso, trabalham “em rede com instituições políticas locais, forças policiais e organizações religiosas e civis para prevenir e denunciar os casos de exploração” que os “missionários testemunham nos países onde trabalham”.

Os Missionários Scalabrinianos convidam todos a participar na XI Jornada Mundial de Oração contra o Tráfico de Pessoas a que a Igreja convoca a 8 de fevereiro, de forma a fazer o apelo para “restaurar a justiça e devolver a liberdade àqueles que são vítimas de opressão”.

“Vivamos esse dia como uma oportunidade de renovar nosso compromisso de combater todas as formas de escravidão moderna e de construir um mundo no qual cada pessoa possa viver em liberdade e na dignidade que lhe pertence, a de ser filho do Deus vivo”, escrevem.

O site do Vaticano “Preghiera contro la tratta” (Oração contra o tráfico) disponibiliza os textos disponíveis para a Vigília de Oração 2025, traduzidos em vários idiomas, nomeadamente português.

LJ/PR

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