Henrique Joaquim fala do impacto da pandemia e da necessidade de trabalhar para que ninguém volte para a rua
Lisboa, 10 jul 2020 (Ecclesia) – O gestor da Estratégia Nacional de Integração dos Sem-abrigo assumiu, em entrevista à Renascença e Ecclesia, a manutenção de objetivo de deixar de ter pessoas em situação de sem-abrigo até 2023, apesar da pandemia.
“Nós não temos de ter medo, pelo contrário, temos de ser ousados, colocar uma meta e responder por ela. Não tendo metas, o risco que corremos é normalizar a situação e a situação nunca pode ficar normalizada”, referiu Henrique Joaquim, na entrevista semanal conjunta que é publicada e emitida à sexta-feira.
O antigo responsável pela Comunidade Vida e Paz (Patriarcado de Lisboa), admite que esta é uma meta “ambiciosa”, mas considera que é também fundamental para sustentar a convicção de que “a situação sem-abrigo é uma situação reversível”.
Henrique Joaquim destaca o trabalho realizado durante a pandemia, desde março, e diz que é necessário aproveitar essa dinâmica para “evitar que estas pessoas voltem outra vez à condição de sem-abrigo”.
A resposta passa por projetos de habitação que estão em fase de implementação, como o ‘Housing First’ – em que as pessoas são acompanhadas por técnicos, tendo em vista a sua integração social – e os apartamentos partilhados, que “visam já dar seguimento o trabalho que foi feito durante a pandemia”.
Nos últimos meses foram criadas, em todo o país, 21 “unidades” de acolhimento de emergência, após uma situação “abrupta”, em que a indicação foi para que todos ficassem em casa.
“Temos aqui, desde logo a contradição, de todos nós sermos mandados para casa e haver pessoas que não tinham casa para onde ir”, assinala o gestor da Estratégia Nacional de Integração dos Sem-abrigo.
Segundo o entrevistado, todos os serviços que existiam continuaram a funcionar: nomeadamente, ao nível dos alojamentos, que acolheram mais de 500 pessoas.
“O confinamento da população em geral tornou muito mais visível a condição em que estas pessoas estão, e obrigou-nos a tomar medidas de urgência”.
Para Henrique Joaquim, o desafio foi não deixar essas pessoas desprotegidas, protegendo-as do ponto de vista da saúde.
Até hoje, revela, foram reportados “dois casos positivos” de Covid-19.
“As próprias pessoas em condição de sem-abrigo adotaram, interiorizaram muito bem os comportamentos de proteção”, explica.
O responsável pede o fim do “estigma” com que esta população é vista e assinala que o Governo pretende que a representação dos sem-abrigo também aconteça “em discurso direto”.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)