Sociedade: «Martinho Lutero foi um dos mentores da transição para a modernidade» – José Eduardo Franco

Congresso na Universidade Lusófona analisa esta quinta-feira os 500 anos da Reforma Protestante

Lisboa, 03 nov 2016 (Ecclesia) – A Universidade Lusófona em Lisboa acolhe esta quinta-feira um congresso sobre Lutero e os 500 anos da Reforma Protestante, que tem como objetivo analisar o contributo daquele acontecimento para a sociedade moderna.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o historiador José Eduardo Franco, presidente da Comissão Científica do evento, considera que, cinco séculos depois, este é o momento ideal para analisar a relação que a Igreja Católica “estabeleceu com a Reforma, e “a influência que ela teve ou não em Portugal, na Europa e nos vários quadrantes da sociedade”.

“A modernidade teve vários atores, vários protagonistas, mentores, várias correntes e movimentos, alguns gerados no próprio seio da Igreja, depois outros que se separaram ou se afirmaram em concorrência, e Lutero foi uma dessas figuras centrais desse processo de transição entre a medievalidade e a modernidade”, sublinha aquele responsável.

Subordinada ao tema “Um Construtor da Modernidade: 500 anos das Teses de Lutero”, o congresso conta com a organização da Área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, e da Sociedade Portuguesa da História do Protestantismo, em parceria com a Universidade Aberta.

“Quisemos fazer uma grande iniciativa científica colocando em cooperação cientistas, historiadores, especialistas quer do mundo protestante quer do mundo católico, quer de outros quadrantes”, acrescenta José Eduardo Franco, que destaca um dos aspetos que na sua opinião são “mais interessantes e revolucionários” no legado de Martinho Lutero.

“O facto de ele ter desencadeado um processo de escolarização importante, devido precisamente à afirmação de um dos axiomas da reforma luterana, o acesso direto, de todos os cristãos à Bíblia, à leitura da Bíblia. Para que ela fosse acessível a todos, para já foi preciso traduzi-la, e depois todos tinham de estar minimamente alfabetizados”, recordou.

Para o historiador, este é um dos exemplos da mudança trazida pela Reforma Protestante, a partir das suas bases teológicas.

“No plano da Cultura teve um papel influente a esse nível, como também no plano da Teologia há um conjunto de propostas reformistas que depois vão desencadear um processo de multiplicação de Igrejas, ditas reformadas, à luz desse ideário do acesso de todos os cristãos à Bíblia, sem a mediação tradicional do clero”, acrescentou.

No que diz respeito à influência da Reforma Protestante em Portugal, José Eduardo Franco recorda a resistência imposta pela Inquisição, que não evitou contudo o estabelecimento de “um diálogo”, ainda que diferente do que acontece atualmente.

“A relação e o diálogo (entre a Igreja Católica e as igrejas protestantes) eram mais conflituais, mais apologéticos do que propriamente aquela ideia de diálogo que hoje defendemos e praticamos, no contexto do espírito ecuménico. Este congresso até é o exemplo disso mesmo, algo que mostra essa cooperação ecuménica para pensarmos de forma distanciada, científica aquilo que representou a Reforma”, salientou.

As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

A Reforma Protestante é situada na data de 31 de outubro de 1517, dia em que o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) afixou na porta da igreja do castelo de Vitemberga as suas 95 teses.

O congresso sobre os 500 anos da Reforma Protestante tem uma Comissão de Honra liderada pelo presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

HM/JCP

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Agência ECCLESIA

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