Autora da página «Nós nos outros» explica que as emoções são um campo comum, capaz de aproximar comunidades e gerar humanidade
Lisboa, 17 mai 2023 (Ecclesia) – Maria Helena da Bernarda, autora da página nas redes sociais ‘Nós nos outros’, onde divulga histórias de desconhecidos com quem se cruza na rua, procura criar caminhos de “empatia” e afirma perseguir “o espirito solidário”.
“É possível e cada vez mais desejável (encontrarmo-nos). Os seres humanos têm um espaço comum que reside nas emoções: podemos pensar de forma diferente consoante as nossas circunstâncias, mas alegria é alegria, a alegria leva ao sorriso, a tristeza leva à lágrima, e isso é comum, não importa onde estejamos”, conta à Agência ECCLESIA.
É nos sentimentos e nas emoções que encontramos a nossa vida; é só preciso aprender a lidar positivamente com as emoções do sofrimento. É ele que nos faz crescer, aprender e também compreender melhor quem sofre. Tenho a perfeita consciência que a tristeza e a alegria convivem, não são opostos, mas caminham lado a lado todos os dias da nossa vida. É isso que eu procuro”.
A página ‘Nós nos outros’ teve início em novembro de 2018, inspirou-se numa página semelhante das redes sociais, ‘Humans of New York’, e permite Maria Helena unir três paixões: as pessoas, a fotografia e a escrita.
A autora sai à rua, munida de uma câmara fotográfica e um telemóvel, onde grava a conversa, e aborda desconhecidos.
“Só me custou a primeira vez abordar as pessoas. Sou muito natural, por isso, mais de 90% das pessoas aceitam. Às vezes dizem-me «tenho pouco tempo», mas eu digo que isso basta. Encontro sempre um ângulo, uma perspetiva, interessante nas suas vidas, e nestes anos, nunca houve uma história que eu deixasse cair”, recorda.
As muitas histórias que já ouviu – algumas das quais foram publicadas num livro em 2020 – procuram espelhar a diversidade do mundo: “O que persigo é o espirito solidário, a quebra de preconceitos, por isso escuto todos – o mundo é de todos”.
Eu vou em busca da verdade. Peço sempre às pessoas a verdade. Não quero saber tudo, não entro em espaços de intimidade, não quero vasculhar, mas apenas ouvir que elas querem contar. Às vezes no final, as pessoas dizem, «pode contar tudo, porque é tudo verdade», e eu não o faço porque tenho a noção que isso vai poder magoar alguém, e isso pode levar ao arrependimento e eu não quero que as pessoas se arrependam nunca de falar comigo”.
Maria Helena encontra nas muitas conversas que tem – “em especial com pessoas idosas” – a tónica da solidão.
“Vivemos num mundo agressivo, marcado pela incerteza no futuro, o stress – tudo isto é muito difícil e penso que cada vez mais a solidariedade é necessária. Não podemos exigir só dos políticos, ao Estado, às Instituições, mas de nós próprios temos de exigir atenção ao próximo”, reforça.
Este trabalho que Maria Helena desenvolve desde novembro de 2018, corresponde a uma nova fase da sua vida, quando, aos 54 anos, decidiu mudar e deixar para trás uma vida dedicada à economia e à gestão.
“O tempo é o bem mais precioso que temos. Durante muitos anos dediquei-me a ser muito responsável a gerir empresas. Mas isso deixava-me pouco tempo para o outro lado da minha vida, nomeadamente os meus filhos, a família e os meus pequenos prazeres, como tocar piano, pintar. Houve muita coisa que ficou para trás. Quando pus os pesos, achei que estava talvez na altura de mudar a minha vida”, refere.
“Tive de pensar várias vezes porque se ganha algumas, perde-se outras, mas não estou nada arrependida. Todos os dias recebo palavras de gratidão por histórias que escrevo. Chego sempre revigorada para casa e penso ‘Sou mais feliz por ter feito isto e deixei aquela pessoa também mais feliz’”, acrescenta.
A conversa com Maria Helena da Bernarda pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação ou no podcast «Alarga a tua tenda».
LS