Sociedade: «Lógica utilitária» põe em causa utilidade do homem

Fabrice Hadjadj disse no II Encontro Nacional de Leigos que facilmente se pode passar do «desperdício à jihad» e que a legitimidade do humano deve procurar-se «no céu»

Porto, 24 jan 2015 (Ecclesia) – O ensaísta Fabrice Hadjadj afirmou hoje no II Encontro Nacional de Leigos como se pode “sair da crise económica e antropológica atual” e que “diante da ameaça da “lógica utilitária”, tem de procurar “uma legitimidade no céu”.

“Quando a presença do homem sobre a terra já não vai de si mesmo, é necessário encontrar-lhe uma legitimidade no céu”, afirmou o filósofo e antropólogo francês na conferência e abertura do Encontro de Leigos, sobre o tema “Recolocar o homem no centro”

“O verbo é «recolocar» e não «colocar». Recolocar implica o retorno a um lugar original, e não a um lugar arbitrário”, afirmou o diretor do Instituto Europeu de Estudos Antropológicos Philanthropos (Suíça) no Centro de Congressos da Alfândega do Porto.

Para Fabrice Hadjadj “humanismo antropocêntrico colapsou” e o humano “não é mais que um desperdício, ou antes um material para fabricar um alegado super-homem, na realidade uma espécie de engrenagem no grande dispositivo mundial”, permitindo que se passe do  “desperdício à jihad”.

A aparente perda de legitimidade do humano sobre a terra motivou, para o conferencista, a emergência de “três figuras anti-humanas”, “três pseudo paraísos”: do “cyborg”, “bonobo” e do “kamikaze”, que se opõem entre si, mas “estão de acordo para desprezar o humano no homem”.

Para o conferencista, “a presença do homem sobre a terra não está somente ameaçada, mas que não tem mais legitimidade no horizonte puramente mundano”, afirmou.

“Eis portanto como se põe a questão do humano nos nossos dias. Eis o «desafio antropológico» sem precedente ao qual devemos fazer face, e que é na verdade um desafio teologal – um formidável apelo à evangelização”, defendeu o conferencista.

Para Fabrice Hadjadj, a evangelização é o anúncio do “Deus feito homem” e não de Deus, porque “em nome de Deus” é possível “desprezar o homem e cair num anti-humanismo teocêntrico”.

“Não super-homem, mas simplesmente homem. Não chefe religioso organizando razias, mas pobre trabalhando com as suas mãos, pedindo de beber a uma Samaritana”, recordou.

O filósofo francês considera que “para começar a sair da crise económica e antropológica atual, seria necessário reencontrar não só o sentido de Deus e do espírito, mas também e sobretudo o sentido da família e da filiação, da paternidade e da maternidade”.

Fabrice Hadjadj defende uma economia enquanto “virtude moral”, que impeça o desperdício e promova estilos de “vida simples”, reconhecendo a “superioridade da mesa familiar sobre a tablet eletrónico” e que possibilite “a proximidade e a transmissão familiar”.

Fabrice Hadjadj propôs a salvaguarda da dignidade da pessoa humano que consiste em “recetividade e responsabilidade”, mais do que “plenitude”.

“Podeis colocar o homem ao centro, mas a primeira coisa que ele fará, se for verdadeiramente humano, é descentrar-se”, garantiu Hadjadj porque “o homem é aberto ao mundo e interessa-se por aquilo que ultrapassa a sobrevivência da sua espécie”.

O II Encontro Nacional de Apostolado dos Leigos (ENL) decorre no Centro  de Congressos da Alfândega do Porto, sábado, dia 24, sobre o tema “Recolocar o Homem no centro da sociedade, do pensamento e da vida".

PR

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Agência ECCLESIA

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