Cardeal-patriarca apresentou o livro «Aprender a ser cigano hoje» de Mirna Montenegro
https://www.facebook.com/agenciaecclesia/videos/808502903021277/
Lisboa, 04 set 2020 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou na apresentação do livro ‘Aprender a ser cigano hoje’ a importância de valorizar as boas práticas para que todas comunidades se sintam “em casa”, em Portugal, nomeadamente no sistema escolar.
“Usar o que está a dar frutos, ainda que com dificuldades e consequências, como no sistema escolar, mas um sistema escolar que em tudo se articule, não apenas a proposta oficial da escola, essa é geral, mas a inclusão das famílias, com as suas próprias tradições, através de mediadores, e tudo o mais que a sociedade transporta”, exemplificou D. Manuel Clemente esta quinta-feira, na Feira do Livro de Lisboa.
Na apresentação do livro ‘Aprender a ser cigano hoje – Empurrando e puxando as fronteiras’, de Mirna Montenegro, o cardeal-patriarca de Lisboa acrescentou que se isso acontecer em relação à comunidade cigana e “em relação a todas as outras comunidades” que existem em Portugal, elas “sentir-se-ão em casa, naquela casa comum que ainda não existe”.
“Temos comunidades que existem, subsistem e às vezes até singram na sociedade portuguesa, mas que não se sentem ainda em casa e só se sentirão em casa quando houver espaços comuns de reconstrução social, em primeiro lugar a escola, mas se esta mesma escolaridade não as esquecer e integrar o que elas trazem, cada uma em particular para um comum que será de todos”, desenvolveu.
Segundo D. Manuel Clemente vai ser necessário todos serem “muito prudentes, muito cautelosos” e “nada ideológicos” mas “muito abertos e muito recetivos”.
“Que a partir desta atenção à comunidade cigana abramos também a perspetiva a todas as outras comunidades que estão presentes em Portugal, que transportam etnias, culturas, modos de vida e de entender a vida e é assim que nós nos encontraremos amanhã”, afirmou.
D. Manuel Clemente começou a apresentação a citar a exortação apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco, de 2013, destacando a “ideia de poliedro como principio constitutivo de sociedade” onde todos caibam naquilo que têm “em comum e naquilo que é próprio de cada um e cada comunidade”.
“O Papa insiste no poliedro, uma realidade que é certamente global mas tem muitas faces. Cada face enriquece o todo e não se perde o conjunto, mas é mais verdadeiro”, explicou.
‘Aprender a ser cigano hoje – Empurrando e puxando as fronteiras’, da Editorail Cáritas, é a publicação da tese de doutoramento de Mirna Montenegro, cuja área de intervenção “é com as crianças” no Bairro da Bela Vista, em Setúbal, onde começou “este namoro, paixão e dedicação”, nos anos 90 do século passado, com diversos projeto de intervenção social.
“A mudança social não se faz num ano, no mínimo tem que ter cinco anos e às vezes só se vêm resultados ao fim do sexto e do sétimo ano. O investimento para a mudança social não pode reger-se pelos projetos curtos, são longos”, assinalou.
Segundo a autora, o livro são “os desabafos” das pessoas, as biografias, “os trechos que as pessoas partilharam” e são “muito extensos” porque “quis guardar aquilo que as pessoas tinham para dizer, e divulgar”.
“Aprendi muito, aproximei-me das pessoas, conheci muitos segredos, conheci muitas mágoas, conheci muitas tristezas, muitas alegrias e nunca me foi barrado qualquer espaço, pelo contrário; Entrei no coração das pessoas pela via das crianças”, salientou Mirna Montenegro.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos destacou a importância do novo livro para “derrubar barreiras” e realçou que tem a “vantagem muito bonita e muito importante” que é a evolução da comunidade cigana “com os tempos, com todos os meios que foram aparecendo e a evolução intrínseca no seu meio ambiente”.
“Muitas vezes, pensa-se que é uma cultura estática, é evolutiva e nós todos, a sociedade em geral, tem de colaborar, a inclusão é fundamental”, disse Francisco Monteiro, alertando que “há racismo em Portugal e anti-ciganismo”.
HM/CB/PR