Sociedade: Instituto Secular das Cooperadoras da Família vai «rever» formas de atuação para atender à realidade familiar hoje

Congresso internacional sobre a família decorre em Fátima, no âmbito do centenário de ordenação sacerdotal do padre Joaquim Alves Brás

Foto: Instituto Secular Cooperadoras da Família

Fátima, 18 mai 2025 (Ecclesia) – A coordenadora geral do Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCP), Conceição Vieira, afirmou este sábado, em Fátima, que o ISCP vai rever as formas de atuação para atender às necessidades da família hoje.

A responsável explicou, em declarações à Agência ECCLESIA, que os resultados do inquérito intitulado «A Família na sociedade contemporânea», promovido pela Universidade Católica Portuguesa e ISCP, apresentado este sábado, ajudaram a perceber a realidade familiar atual.

“O questionário foi uma coisa fabulosa, foi muito bom mesmo. O que nos fez ver, de facto, que a realidade muda e mudou e continua a mudar e que nós precisamos também de adequar, se calhar, modos e meios para chegarmos mais à família”, referiu.

O padre Eduardo Duque, professor principal da equipa que preparou o estudo, apresentou as conclusões do inquérito, no Centro de Estudos de Fátima, referindo que este mostrou que a família contemporânea “dá mais primazia aos afetos”, “valoriza muito a autonomia individual” e que “há pluralidade de formas familiares”.

“Isto vai levar-nos a rever algumas posturas face à nossa ação junto da família. A forma e, sobretudo, também encontrar estratégias, que nos levem dentro desta realidade concreta que os jovens sentem da família e que as próprias famílias vivem como transformação”, indicou Conceição Vieira.

As Cooperadoras da Família têm como carisma e missão o cuidado e santificação da família, desenvolvendo um conjunto de atividades em diversas áreas.

“Nós temos uma série de equipamentos de infância, onze equipamentos de infância, quatro de idosos. E é, sobretudo, pegar nesta realidade das crianças e dos idosos e tentar aqui chegar às famílias. Esse tem sido sempre o nosso objetivo. A forma como chegámos pode não ser a mais adequada”, refere Conceição Vieira.

A coordenadora geral do ISCP dá conta que o foco continua a ser dar continuidades às estruturas que já têm, “não significa que seja da mesma forma”.

“Mas fazer com que isto seja uma mediação para a família, um trampolim que nos leve a ter a família ao centro, através daqui, já que temos estas estruturas também”, assinala.

A apresentação do estudo “A Família na sociedade contemporânea” aconteceu no congresso internacional subordinado ao tema «Atravessados pelo Amor e pela Esperança” – ‘Cuidar as Famílias com(o) o Pe. Brás’», iniciativa do ISCP inserida na dinâmica de celebração dos 100 anos de ordenação sacerdotal do padre Joaquim Alves Brás.

O sociólogo Alfredo Teixeira foi o responsável por um dos quatro workshops “A Família – desafios e oportunidades” na tarde deste sábado, apresentado a perspetiva sociocultural.

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Em declarações à Agência ECCLESIA, antes do início da intervenção, o professor da UCP referiu que tinha como objetivo mostrar como a “família é talvez o principal laboratório” para compreender “as grandes transformações” nas sociedades atuais.

De acordo com o professor da UCP, vive-se hoje “uma certa nuclearização da família, uma família que se tornou mais pequena, muito centrada nessa relação pais-filhos”.

“Por outro lado, essa mesma relação, mesmo sendo nuclear, sofre recomposições múltiplas, porque a família se tornou menos estável, menos durável e, portanto, as pessoas, em muitos casos, têm de reconfigurar essa experiência”, explicou.

O docente universitário considera que hoje “a família ocupa um lugar crucial”, mesmo que ela não seja “um órgão que tenha o monopólio, de alguma forma, do processo de socialização dos indivíduos, ou seja, a missão da família é cada vez mais partilhada com outros dinamismos na sociedade”.

“Refletir sobre a família implica refletir sobre ela com as outras instituições na sociedade, na sua dimensão política, educacional. E, portanto, de alguma maneira, eu diria que é preciso voltar a pensar a família nesse diálogo com o espaço público”, acentuou.

Para o Alfredo Teixeira, os maiores desafios que se apresentam às famílias prendem-se com o “envelhecimento” da população, salientando que Portugal é na Europa um dos países com taxa de envelhecimento maior.

“Problemas desse contrato geracional em que os mais novos cuidam dos mais velhos já é um problema e eu penso que ele se vai agravar, essencialmente porque talvez não o tenhamos preparado suficientemente”, evidenciou.

O professor defende que “as sociedades têm de crescer” e acredita “que as instituições eclesiais podem dar-lhe um contributo importante”.

“Precisamos de boas políticas familiares, precisamos que a família seja uma interlocutora mais clara, por exemplo, de processos educativos na escola, precisamos, porventura, que a própria Igreja Católica, nos seus dinamismos pastorais, tenha mais como interlocutor a família e talvez não tanto apenas o indivíduo”, identificou.

O congresso internacional “Atravessados pelo Amor e pela Esperança” – ‘Cuidar as Famílias com(o) o Pe. Brás’”, que decorre este fim de semana, enquadra-se nos 100 anos de ordenação sacerdotal do padre Joaquim Alves Brás, apóstolo da família e fundador Instituto Secular das Cooperadoras da Família.

“Nós damos continuidade ao seu legado que nos deixou. O Padre Brás tinha, de facto, uma intuição muito grande, que era, se cuidarmos da família, isto impacta na sociedade, nos jovens, na Igreja. E este é o grande carisma das Cooperadoras, é o cuidado da santificação da família que herdamos dele”, destacou.

LJ/PR

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