Sociedade: Igreja precisa de «novas escolhas culturais», «pastorais» e «teológicas» para se relacionar com o mundo

Deus «não entra nos indicadores do bem-estar», considera professor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma

Lisboa, 11 dez 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica precisa de “novas escolhas culturais, pastorais, teológicas” capazes de “interagir” com a sociedade, considera o italiano Carmelo Dotolo, professor numa das mais prestigiadas universidades católicas do mundo.

O docente sustenta que a Igreja deve ser “um sinal credível e confiável” para revelar a “frescura de uma mensagem que tem como objetivo humanizar a vida e a sociedade”, ao mesmo tempo que permite a todo o ser humano “encontrar o sentido e significado da própria existência”, refere a edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

O Papa Paulo VI sustentava que “se a fé não é capaz de elaborar cultura, arrisca-se a ser tangencial à vida”, não incorporando “elementos significativos na existência”, lembrou o professor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma na intervenção que proferiu a 3 de dezembro, em Braga.

A cultura, enquanto meio onde se elaboram os “significados da existência” e se amadurece a identidade pessoal, não é dominada pela dimensão “cognoscitiva” mas “ética”, realçou na conferência intitulada ‘Novas linguagens na transmissão da fé’.

Os católicos enfrentam o desafio de “o cristianismo poder ser, ainda hoje, expressão de uma modo de vida e, portanto, de um estilo com o qual se leva adiante a construção de um mundo melhor e diferente”, sublinhou.

Depois de frisar que “a relação entre fé e cultura não é secundária mas estrutural”, o professor leigo referiu a necessidade de este tempo “pós-cristão” ser avaliado “não com um juízo negativo” mas na convicção de que o “Espírito Santo” oferece aos católicos a possibilidade da “conversão cultural do crer”

“Deixou de haver uma situação sociológica cristã e um acolhimento do Evangelho que possa ser garantido por um sentir comum”, pelo que os cristãos são chamados a propor uma perspetiva diferente, dado que as suas escolhas implicam “um olhar novo sobre a realidade, as pessoas” e “os valores”.

Numa sociedade marcada pelo “neo-paganismo”, vive-se “como se Deus não existisse” e o divino “não entra nos indicadores do bem-estar”, disse perante dezenas de pessoas presentes no Auditório Vita.

A fé cristã, afirmou, é um “movimento de procura” de bem-estar que, ao contrário de outras correntes, não se baseia na busca “narcísica” de si mas aponta para um “processo de construção de uma identidade relacional, aberta ao bem”.

“O Deus de Jesus Cristo, que não é facilmente domesticável ao nosso bem-estar”, reclama do ser humano uma “corresponsabilidade muito séria””, vincou o docente, acrescentando que um Deus à “imagem e semelhança” do ser humano pode encontrar-se em “qualquer supermercado religioso”.

O professor sustenta que “já não é suficiente” uma “participação passiva” na Igreja porque ser-se cristão implica “pôr-se em movimento” e a fé torna-se uma “formalidade” se não implicar um dinamismo existencial.

A escuta das palavras do quotidiano e de Deus, a redescoberta da “fraternidade eclesial” que se abre à “colaboração na diversidade”, o alargamento dos ministérios (serviços) na Igreja, a contribuição para a “transformação do mundo” e a “coragem de alimentar a interioridade de espiritualidade” constituem os desafios que, segundo Carmelo Dotolo, a Igreja é chamada a responder.

RJM

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Agência ECCLESIA

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