Sociedade: Igreja corre o risco de fazer muito e aprender pouco, diz especialista em estudos de mercado

Católicos enfrentam «competição dura» no «mercado de procura de sentido para a vida»

Lisboa, 05 out 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica arrisca-se a não responder às mudanças na sociedade se for incapaz de aprender com a experiência, considera Carlos Liz, profissional de estudos de mercado e opinião.

Em entrevista à ECCLESIA o especialista sublinha que a Igreja corre o risco “de fazer imensas coisas e aprender pouco”, o que é “um pecado inaceitável”, especialmente num período em que “nunca” o “‘mercado’ de procura de sentido para a vida foi tão interessante”

As propostas dos católicos não são “as únicas” nem os melhores”: “Não podemos pensar que estão todos agradecidos à Igreja e à espera dela. Estamos numa competição dura”.

“Com a crise social em Portugal ninguém duvida que a Igreja está na primeira linha” do apoio aos mais desfavorecidos, e esta “autoridade moral” constitui “uma oportunidade única para apresentar de forma mais consistente o que tem para dizer à sociedade”, refere.

Referindo-se à expressão “nova evangelização”, utilizada há vários anos pela Igreja, o profissional da área do marketing realça a necessidade de os gestos acompanharem as palavras.

O conceito da “nova evangelização” compreende “a ideia de novidade” mas o “problema” é que ela “não aparece suficientemente, apesar de tanto ser anunciada, o que causa grande desconforto”.

“Quando recorremos à palavra ‘novo’ temos alguma responsabilidade na sua utilização”, refere Carlos Liz, salientando que “não é fácil exprimir essa novidade para além do enunciado verbal”.

O perito católico sugere a introdução de outros textos da Bíblia nas missas para evitar o “pecado da repetição”, e também porque “não se pode pensar o novo com os estímulos de sempre”, sobretudo quando “há um conjunto de textos que penalizam a criatividade em matéria de comunicação”.

O especialista frisa que ao “mexer-se no ser da Igreja mexe-se também na sua linguagem” e lembra que quanto mais se pratica uma linguagem em que se acredita, maior é a transformação que se opera individual e institucionalmente.

Carlos Liz realça ainda que a Igreja tem de saber gerir a “tensão” entre a segurança nas suas convicções e a abertura à cultura e pensamento contemporâneos.

“O mundo tem uma profunda necessidade de olhar para uma Igreja estável e perene”, mas ao mesmo tempo os católicos têm de ser capazes de “abrir portas para o exterior”, assinala.

“Há coisas extraordinárias na Igreja em Portugal: por exemplo, o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que manifesta a capacidade de ter em atenção a sociedade”, ou “a maneira como se estuda, investiga e pensa o Concílio Vaticano II na Faculdade de Teologia”, aponta.

Referindo-se ao Sínodo dos Bispos dedicado à nova evangelização, que começa este domingo no Vaticano, Carlos Liz diz-se convencido de que “há uma pressão suficientemente positiva e forte” para que a agenda do encontro produza resultados.

PTE/RJM

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