Sociedade: Idosos da Baixa de Lisboa pressionados a abandonar as suas casas

Projetos de reabilitação querem transformar a zona da cidade em polo turístico

Lisboa, 15 mai 2014 (ECCLESIA) – A responsável pelo projeto ‘Mais Proximidade Melhor Vida’, Maria de Lourdes Pereira Miguel, disse hoje à Agência ECCLESIA que há planos de reabilitação da Baixa de Lisboa a pressionar os idosos que aí habitam a abandonar as suas casas.

“Temos de começar a intervir com apoios jurídicos fortes, de escritórios de advogados que nos dão assessoria ‘pro bono’, para garantir a continuação da dignidade de vida idosos ameaçados por despejo de casas para requalificação da baixa”, afirmou.

“Nos últimos dois meses já houve três casos”, disse a responsável, à margem da conferência ‘Envelhecer melhor como?’, que o projeto do Centro Social Paroquial de São Nicolau (Lisboa) promoveu na Fundação Calouste Gulbenkian.

A coordenadora a Equipa Técnica do projeto ‘Mais proximidade Melhor Vida’, Mafalda Ferreira, considera que os idosos que habitam na Baixa de Lisboa não podem ser tirados “de qualquer maneira” por causa da “grande pressão” a que são sujeitos.

“Há agora uma grande pressão para reabilitar a Baixa, para a tornar um polo turístico, desde os hostels às casas de curto aluguer e aos hotéis, mas as pessoas vivem lá, há 40, 50 anos e não podem ser tiradas de qualquer maneira””, disse à Agência ECCLESIA

Para Mafalda Ferreira, a Baixa “não é apenas as lojas, as retrosarias ou os turistas que lá passam”, mas também as “pessoas que lá vivem e que, pela arquitetura daquelas casas têm uma grande dificuldade em aceder ao exterior e estarem integradas na cidade”.

“As pessoas vivem no quarto ou quinto andares, sem elevadores, com 80 e 90 anos, a maior parte são viúvas e a idade e as escadas já permitem uma vida tão integrada como antigamente tiveram”, referiu.

O ‘Mais Proximidade Melhor Vida’ atua junto de 140 idosos da Baixa de Lisboa com iniciativas de combate à solidão e ao isolamento das pessoas, ajuda nos cuidados de saúde, em pequenas reparações ou grandes obras nas habitações e ações que deem “qualidade de vida”.

“Temos protocolos com uma empresa de ambulâncias que nos permite trazer as pessoas à rua, passear, para ir a uma consulta médica ou ao cinema ou ao museu de arte antiga. Não queremos limitar-nos aos serviços básicos. Queremos ir mais além e dar às pessoas qualidade de vida porque ter qualidade de vida não é apenas ter comida e roupa lavada, é muito mais do que isso”, declarou Mafalda Ferreira.

Para Maria de Lourdes Pereira Miguel, o projeto dá sobretudo afetos aos idosos da Baixa de Lisboa.

“Nos não damos dinheiro aos idosos, damos afetos”, sustentou a responsável.

PR

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