Sociedade: Futuro de Portugal com cerca de 15% da população imigrante «já chegou»

«Nós precisamos de mais de 100 mil migrantes por ano, para responder ao envelhecimento populacional, e mantermos a nossa economia ativa», afirmou Pedro Góis, diretor do Observatório das Migrações 

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Fátima, 17 nov 2025 (Ecclesia) – O diretor do Observatório das Migrações apresentou no I Fórum Migrações, promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa, “um futuro que já chegou” onde “cerca de 15% da população nasceu fora do país”.

“É um futuro de um Portugal diferente, onde cerca de 15% da população nasceu fora do país, onde muitos destes migrantes trarão ainda as suas famílias e vão tornar-se parte da nossa sociedade”, disse Pedro Goís, em declarações à Agência ECCLESIA.

Em Portugal mais de 1,5 milhões de pessoas nasceram fora do país, e 85,5% dos imigrantes são a população ativa.

Segundo o diretor do Observatório das Migrações os números dos imigrantes em Portugal dizem que se está “numa primeira fase das migrações”, e quando são trabalhadores, “população em idade ativa”, e os “15% são alguns mais velhos de fluxos anteriores migratórios”, mas, sobretudo, muitas crianças e jovens que estão nas escolas.

O potencial dessas pessoas “é de já estarem no mercado de trabalho” e, por isso, a taxa de desemprego em Portugal é muito baixa, o que “mostra que sem eles a economia estaria pior”.

“Por outro lado, pela lei da vida, eles também vão envelhecer e, portanto, se hoje eles são jovens e fazem parte da população ativa, amanhã eles também envelhecerão e farão parte da população inativa, e temos que, estrategicamente, preparar todo esse futuro, ou renovando as gerações com novos nascimentos em Portugal, ou acolhendo novos migrantes de uma forma permanente”, desenvolveu.

“Nós precisamos de mais de 100 mil migrantes por ano para responder ao envelhecimento populacional, e mantermos a nossa economia ativa. Este número tem de vir de algum lado e, portanto, as novas leis, a nova lei dos estrangeiros, a nova lei da nacionalidade e outras vão ajudar a selecionar quem serão estas pessoas. Mas elas, inevitavelmente, acabarão por chegar.”

A Conferência Episcopal Portuguesa realizou o I Fórum Migrações, com o objetivo de sensibilizar e formar as comunidades cristãs para o fenómeno migratório, e reuniu 70 pessoas – bispos, de agentes pastorais das dioceses com ligação à dinâmica das migrações, de organismos nacionais da Conferência Episcopal e de congregações religiosas -, no sábado, dia 15 de novembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

“Os católicos não podem ser racistas, a Igreja Católica não pode ser racista, os cristãos, em geral, não podem ser racistas, porque todos os textos que nos influenciam, que nos criam culturalmente, são todo o contrário desse racismo e xenofobia que é apregoado; não me parece que esses dois discursos sejam conciliáveis e espero que a sociedade portuguesa, pouco a pouco, vá aferindo a impossibilidade desta concretização de sermos racistas e ao mesmo tempo sermos cristãos.”

O diretor do Observatório das Migrações que foi falar sobre o futuro, “o futuro que já chegou”, ao primeiro ‘Fórum Migrações’, organizado pela CEP, salientou que a sociedade portuguesa é “muito influenciada pela Igreja Católica e pela tradição da cultura católica”, por isso, “faz todo o sentido” que a Igreja Católica no seu todo, incluindo as suas organizações, pense um pouco sobre como se devem “organizar para acolher estas pessoas, estes irmãos e irmãs que estão a chegar”.

Para Pedro Goís a “capilaridade muito grande” da Igreja Católica em Portugal que “está em todo lado”, “as paróquias estão um pouco por todo”, é “talvez o grande potencial” desta instituição e, com esse potencial, desenvolver-se “algo de novo” que é poderem falar com os migrantes de forma direta, “cada membro da Igreja, no local onde vive, ser um agente de integração”.

“E este tipo de encontros permite-nos formar esta comunidade de uma forma mais sólida, porque os migrantes que hoje estão em Odemira, estarão amanhã em Lisboa, e depois de amanhã em Bragança, e será muito interessante se a Igreja os conseguir acompanhar neste seu percurso, ajudando-os a integrar-se, ajudando-os a integrar as suas famílias e tornando-os parte desta comunidade que é de todos nós”, acrescentou.

O diretor do Observatório das Migrações para combater mitos e preconceitos associados ao tema das migrações usa muito o exemplo da emigração portuguesa que há 60 anos estava “a ir a salto para a França, a ficar ilegais no país”, e essa emigração portuguesa em França “foi de grande sucesso, de plena integração, ao ponto de hoje haver muitos descendentes de portugueses que são autarcas ou que são membros dos governos regionais”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

“Se deixarmos o preconceito e se acreditarmos que esse processo de integração é possível, o tempo fará o resto, porque é necessário tempo para esta integração, para que as pessoas aprendam a língua, para que conheçam a nossa cultura, para que se sintam parte da nossa sociedade, e tudo isso junto levará algumas décadas”, indicou.

Pedro Góis integrou um painel que ajudou os participantes do ‘Fórum Migrações’ a pensar sobre a legislação e a ação da sociedade em geral sobre este tema, com Rui Marques, o antigo alto-comissário para a Imigração, e membro do grupo Consenso Imigração.

CB/PR

Fórum Migrações: «Para nós, Igreja, não há estrangeiros, são todos irmãos e irmãs» – D. José Traquina

«Fórum Migrações»: «Defender a própria identidade sem se abrir à diferença é criar uma sociedade autorreferencial», afirma D. José Ornelas

 

Partilhar:
Scroll to Top