Cristina Sá Carvalho, psicóloga e professora universitária aconselha a «fazer uma desintoxicação do telemóvel»
Lisboa, 27 ago 2019 (Ecclesia) – A psicóloga Cristina Sá Carvalho, responsável pelo Setor da Catequese no Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), afirma que o tempo das férias “devia ser aproveitado como tempo de reflexão”, numa sociedade “muito afetada pela patologia do tempo”.
“Estamos sobrecarregados de informação, acabamos por ter pouco tempo para o que é importante e, nesse sentido, as férias deviam ser pensadas a longo prazo, para evitar a ansiedade das férias, às vezes, colocamos expectativas extraordinárias que não se cumprem e acaba por se perder o que têm de bom que é fazer essa interrupção”, disse à Agência ECCLESIA.
Para Cristina Sá Carvalho, mesmo quando não existe oportunidade de “sair de casa” durante as férias, pelo facto de não se ir trabalhar, há oportunidade para existir “mais sossego”, “de fazer coisas diferentes”, o que também “supõe alguma disciplina, alguma planificação”.
“Nas férias uma das coisas que devíamos fazer é uma desintoxicação do telemóvel, até dos telefonemas dos amigos, deixar só uma hora por dia que esteja ligado, para podermos apreciar tudo o que está à nossa volta, apreciarmo-nos a nós mesmos”, desenvolveu.
Segundo a psicóloga, hoje, a questão das dependências do trabalho “está ligeiramente ultrapassada” quando há uma década alguém que vivia permanentemente para o trabalho era visto como “suprassumo” e toda uma geração se “refugiou no trabalho para não viver o resto da sua vida”.
“Estamos a aprender com gerações mais jovens, os Millennials (Geração Y), por exemplo, que têm uma relação com o trabalho muito mais fluida, não têm aquelas expectativas de ficar numa empresa para toda a sua vida e gostam de outras coisas, vão-se muito facilmente embora dos lugares de trabalho senão gosta do relacionamento, senão estão a crescer”, explicou.
A família é um dos temas que a entrevistada trabalha pastoralmente e as férias oferecem oportunidades de encontro “importantes” mas que pode ser “difícil”, se a família durante o ano inteiro “raramente se cruza” e, às vezes, “está fechada em casa e queria estar noutro sítio”.
“Uma família que quer continuar a ser uma família tem de ter várias experiências de encontro ao longo do ano, é sempre possível encontrar um momento. Vamos procurar fazer coisas que são enriquecedoras e não são estupidificantes”, assinalou.
Cristina Sá Carvalho realçou que “é muito importante fazer coisas em conjunto” e olhar “para o mundo à volta”, porque o “egocentrismo é sempre uma limitação intelectual e moral, que define a pessoa como doentia.
Depois das férias há o regresso para um novo ano de trabalho, pastoral, escolar, e para gerir as expectativas a psicóloga recomenda “pegar numa folha de papel e numa caneta” e escrever “algo de sólido”.
“Temos a noção que algumas coisas serão mais difíceis e algumas coisas não estaremos à espera”, explicou, aconselhando a “deixar espaço, a não preencher tudo” e “ir fazendo o exercício da autoavaliação”.
PR/CB