Sociedade: Família Mafalda e Nuno Frazão apostam em projetos impulsionadores de mudança em contextos vulneráveis

O voluntariado marcou o crescimento individual e hoje contagiam os cinco filhos para a integração da diferença e para a esperança que cada vida representa

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 23 jul 2025 (Ecclesia) – Mafalda e Nuno Frazão, casados há 14 anos e pais de cinco filhos, partilham, em família, a vontade de ajudar e estruturar projetos impulsionadores de mudança e esperança seja através da educação, do desporto ou da sustentabilidade ambiental.

“Uma pessoa mesmo que venha de um ambiente de vulnerabilidade, se tiver um desporto competitivo em perspetiva, procura o empenho para colocar aí a sua capacidade e projeto de vida. Mas tem de existir a figura de um mediador – o absentismo parental é muito grave, e a falta de tempo dos pais com as crianças vai gerar problemas”, garante Nuno Frazão, engenheiro de formação, à Agência ECCLESIA.

“Ter tempo de qualidade com as crianças é que vai regenerá-las e prepará-las para o futuro. E se o tempo for acompanhado por uma pessoa, um voluntário, equilibrado, e que pode acompanhá-la no desporto, em explicações, e que de vez em quando tenha uma conversa tu a tu, só isto é suficiente para a pessoa chegar onde quiser na vida”, acrescenta o impulsionador do projeto ‘Social Innovation Sports’, que decorre no bairro do Pragal, em Almada.

Mafalda Frazão, designer de formação, radica a empatia perante a fragilidade e o “colocar-se no lugar do outro” ao facto de ter crescido numa família entre sete irmãos, onde havia sempre espaço para nascer mais alguém – “havia sempre um irmão ou um primo a nascer” – com “vários médicos” e pessoas ligadas à área da saúde – “mãe enfermeira, pai médico, avó médica de saúde pública de um centro de saúde”.

“Uma realidade que nos abriu muito a sensibilidade para aqueles que sofrem, para realidades um bocadinho diferentes do que estamos habituados. O hospital onde o meu pai trabalhava era quase a nossa segunda casa porque íamos imensas vezes lá; a minha avó era médica de saúde pública de um centro de saúde, também perto do Porto, e tinha que ir muitas vezes aos bairros a casa de pessoas reconhecer situações familiares, ou situações de doença, ou algumas situações e, se calhava um dia que estávamos com ela, íamos também”, recorda.

Quando jovem, a estudar e inscrita em atividades de capoeira ao final do dia, Mafalda ocupava o final do dia a distribuir comida a pessoas em situação de sem abrigo, na cidade do Porto, levando-a a conhecer “duas cidades” e a acicatar a vontade de saber as histórias que estavam por detrás de casas, onde habitavam pessoas em situação de vulnerabilidade.

“Perante uma grande vulnerabilidade familiar, famílias muito pobres ou muito desestruturadas, e falando do Pragal, por exemplo, que é muito claro ver, às quatro da tarde e às dez da noite é uma situação muito perigosa – assistimos tantas vezes situações e não sabemos quem é que é o pai, quem é que é o filho no comportamento da maturidade – onde falta comida, há violência, há agressividade, não há espaço para o estudo, está cada um por si e tantas vezes a rua é a salvação da pessoa”, reconhece Nuno.

Foi pelos 18 anos que participar numa missão em Cabo Verde colocou Nuno Frazão perante a bondade e a capacidade de fazer a diferença na vida de pessoas concretas; tendo estudado engenharia, nunca mais deixou de estar ligado a projetos de inovação e compromisso social.

“Foi em África que eu me descobri a rezar. O bem não faz barulho; a alegria interior não tem estrato social e eu descobri pessoas que podia considerar santas. Fomos para Cabo Verde para servir e quem nos serviu foram eles, claramente, e isso foi uma surpresa enorme, foi ser um marco na minha vida”, recorda.

A Índia, o Brasil e Angola, contados a partir de projetos sociais, fazem parte do percurso do casal que sonha levar os cinco filhos em missão num futuro próximo.

Procurando devolver a profundidade espiritual que foi enriquecendo a vida em casal, e que “foi cozendo várias dimensões da vida”, Mafalda e Nuno Frazão frequentaram a escola de exercícios espirituais de Salamanca, formando-se na ferramenta criada por Santo Inácio e hoje acompanham espiritualmente pessoas ao longo do ano nos Exercícios da Vida Quotidiana.

“É muito importante para nós percebermos que estamos a caminhar mais do que só na dimensão física mas que existe outra dimensão que integra o nosso dia-a-dia, e que acaba por cozer tudo o que nós vamos vivendo”, assegura a mãe de família.

“A vida tem muito mais imaginação do que os nossos sonhos, e nas coisas que vão acontecendo, nós sabemos que somos a casa uns dos outros, independentemente da casa onde estivermos”, resume Mafalda.

A conversa com Mafalda e Nuno Frazão pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1, pouco depois da meia-noite, disponibilizado posteriormente no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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