Sociedade: Família contemporânea «dá mais primazia aos afetos» e «valoriza muito a autonomia individual» numa «pluralidade de formas familiares»

Padre Eduardo Duque apresentou conclusões de inquérito intitulado «A Família na sociedade contemporânea», promovido pelo Instituto Secular das Cooperadoras da Família e pela UCP

Foto: Agência ECCLESIA/LJ, padre Eduardo Duque

Fátima, 18 mai 2025 (Ecclesia) – O padre Eduardo Duque apresentou este sábado, em Fátima, os resultados do inquérito “A Família na sociedade contemporânea”, que aponta para uma  “pluralidade de formas familiares”, onde se “dá mais primazia aos afetos”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, após a apresentação, o professor principal da equipa que preparou o estudo, promovido pelo Instituto Secular Cooperadoras da Família e pela Universidade Católica Portuguesa, explicou que o inquérito mostrou que “a família mudou muito ao longo dos tempos” e que há um conjunto de valores que dão conta que a “mudança é real”.

“A família dos tempos de hoje, a família contemporânea, é uma família que dá primazia aos afetos e à realização pessoal. Isto não acontecia em tempos idos. A família não estava voltada para a realização pessoal, mas muito mais para a vontade de uma comunidade que era importante e que hoje, de facto, aquilo que se valoriza é esta dinâmica pessoal, individual”, afirmou o investigador Eduardo Duque.

A apresentação do estudo “A Família na sociedade contemporânea” aconteceu no congresso internacional subordinado ao tema “Atravessados pelo Amor e pela Esperança” – ‘Cuidar as Famílias com(o) o Pe. Brás’”, iniciativa do ISCP inserida na dinâmica de celebração dos 100 anos de ordenação sacerdotal do padre Joaquim Alves Brás.

O professor indicou que os dados mostraram que “a família antigamente era profundamente hierarquizada” e que hoje esta caracteriza-se por ter “relações horizontais, relações democráticas e relações negociadas”.

“Hoje, o pai, mãe, filhos, etc., têm que negociar as próprias decisões. Já não podem ser impostas, porque não são reconhecidas”, refere, assinalando que na família tradicional os “valores era muito autoritários”.

“A família na sociedade de hoje, valoriza muito a autonomia individual, ou seja, esta autonomia da própria pessoa, do indivíduo, mesmo que isso implique ir contra um estatuto já estabelecido, ou seja, o indivíduo, a pessoa, não tem medo de enfrentar a sociedade em nome da sua autonomia individual”, mencionou.

Segundo o padre Eduardo Duque, os resultados do inquérito apontam ainda que “hoje há uma diversidade de famílias, há uma pluralidade de formas familiares”.

“Lembro-me de um modo, talvez, muito particular, por exemplo, das famílias monoparentais, das famílias reconstituídas, das famílias sem filhos, das uniões de facto, das famílias homoparentais, etc. Ou seja, um conjunto de modelos familiares que antigamente não existia e que hoje, de facto, existem”, enfatiza.

O professor da UCP defende que não se pode “fechar os olhos” às novas formas familiares: “Também temos que lhes dar voz, temos que as acolher, temos que as integrar. Elas são tão importantes quanto as famílias nucleares tradicionais”.

“Eu creio que se poderia dizer que a família nos dias de hoje talvez se traduza ou se defina melhor pela qualidade das suas relações e pela confiança mútua, mais do que uma estrutura específica tal como no passado”, assinala.

Sobre os desafios que se apresentam às famílias atualmente, o sacerdote declara que o inquérito mostrou que há dificuldade na conciliação entre a vida profissional e vida familiar.

“Quando se pergunta às pessoas quais é que são os grandes desafios, o primeiro desafio que aparece é precisamente este”, descreveu, explicando que “muitas vezes até há um certo prejuízo familiar para não deixar para trás a sua vida profissional porque sabem que é a vida profissional que lhes paga as contas”.

“Um outro desafio é tentar procurar valores que não sejam relativistas. Ou seja, procurar no fundo construir bem a personalidade, procurar construir bem o caráter da pessoa porque isso vai lhe dar solidez para a vida, para enfrentar os problemas da vida”, ressaltou.

Quanto ao Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCP), que com este estudo pretendeu olhar a realidade familiar atual conseguir realizar a sua missão, o inquérito mostrou, diz o padre Eduardo Duque, que as cooperadoras “fazem um grande trabalho nas comunidades e um trabalho que lhes é reconhecido”.

“Este reconhecimento advém-lhes primariamente a partir das paróquias”, elucida o docente, que acrescenta que as cooperadoras são também conhecidas “pela educação e pela formação”.

“Acima de tudo aquilo que eu encontrei é que elas são apreciadas e reconhecidas por aquelas pessoas que as conhece”, acentuou.

Mais de 3600 pessoas responderam ao inquérito, de norte a sul do país, incluindo as ilhas.

LJ

Partilhar:
Scroll to Top