Sociedade: «Estamos a falhar na capacidade de proteger as pessoas» – Elizabeth Santos

Responsável do Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza – EAPN aponta para riscos levantados pela crise na habitação e o populismo

Foto: Paulo Teixeira/RR

Porto, 22 out 2023 (Ecclesia) – Elizabeth Santos, do Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN), afirmou que a crise na habitação e o aumento do populismo podem pôr em causa as políticas públicas, na promoção social.

“Estamos a falhar na capacidade de proteger as pessoas, no caso da habitação”, assinala a convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

A responsável destaca que o aumento previsto para o salário mínimo nacional para os próximos anos precisa de ser revisto, face aos preços praticadas na habitação.

“Já encontramos a T1 a 900 euros. Nós não podemos ter um salário mínimo em que todo ele é para pagar a habitação, porque isso é inconcebível”, adverte.

Elizabeth Santos assinala que as pessoas mais pobres são “remetidas para habitações com piores condições de vida”, situação que vai ter impacto mos problemas de saúde.

“Nós ainda não temos a capacidade de perceber a questão da pobreza como um problema de todos e de toda a sociedade. É uma mudança de mentalidade que tem de mudar. Nós temos de compreender que, quando falamos em pobreza, não é um problema dos pobres, é um problema da sociedade”, sustenta.

A responsável do Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da EAPN/Portugal afirma que “é importante blindar, de alguma forma, as medidas para evitar que ideologias que possam existir nos territórios influenciem o acesso ou não acesso” das pessoas.

“Sabemos que está a crescer o populismo, sabemos que há uma perspetiva, uma leitura da pobreza muito específica em alguns desses partidos e por isso é importante garantir que, independentemente de quem está à frente desses municípios, todas as pessoas tenham acesso de qualidade a esse tipo de proteção”, acrescenta.

A entrevistada sublinha que há pessoas empregadas que “acabam por viver em carros ou em situações muito precárias”, lamentando ainda os valores “muito baixos” das prestações sociais.

“A proteção social ainda está a falhar na capacidade de prevenir situações de precariedade e quando juntamos a isso o aumento do custo de vida e toda a crise da habitação, temos aqui um contexto explosivo”, observa.

Elizabeth Santos admite que a situação está “a agravar-se” e “os dados da pobreza, os dados oficiais, não mostram isso”.

“Temos alguns grupos que pouco diminuíram o seu risco de pobreza. Se pensarmos, por exemplo, nos desempregados, desde 2015 até agora, a taxa de pobreza, a exclusão social deles nunca baixou dos 60%”, insiste.

A especialista apela a uma responsabilidade coletiva no combate à pobreza, que evite culpabilizar as pessoas mais necessitadas.

“É importante maior conhecimento sobre o que é a pobreza, porque ainda há muitos mitos, ainda há muitos preconceitos, ainda há muita tendência de culpabilizar as pessoas pela situação que vivem”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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Agência ECCLESIA

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