«Um democrata cristão avant la lettre», já durante o Estado Novo
Lisboa, 27 out 2022 (Ecclesia) – José Ribeiro e Castro afirmou que Adriano Moreira, que faleceu com 100 anos, “ajudou o país a reconciliar-se”, depois do 25 de abril, e foi “um homem de grande envergadura como estadista, integração politica” e no ensino.
“Indiscutivelmente é um homem da democracia, é um homem da liberdade, é um homem do Estado de Direito, e tem na construção da universidade portuguesa, concretamente na Escola das Ciências Sociais e das Ciências Políticas que não existia”, disse hoje o advogado, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Adriano Moreira, que faleceu este domingo, 23 de outubro, recebeu o Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, da Igreja Católica em Portugal, em 2009, pelo “percurso intelectual e cívico”, comemorou 100 anos no dia 6 de setembro; em junho recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Camões do presidente da República.
O seu percurso académico, político e de intervenção na sociedade foi vivido em dois regimes, como ministro do Ultramar no Estado Novo, de 1961 a 1963, nomeado por António de Oliveira Salazar, e, após o 25 de abril de 1974, em democracia, depois de ter estado exilado no Brasil, foi deputado no Parlamento português, de 1980 a 1995, tendo sido vice-presidente da Assembleia da República (1991-95), presidente do Centro Democrático e Social (CDS), de 1986 a 1988, e também fez parte do conselho de Estado, entre 2015 e 2019.
José Ribeiro e Castro, antigo deputado na Assembleia da República, recordou “um homem que marca pelo seu caráter” e um testemunho de “construção brutal”.
“Um homem de grande envergadura como estadista, integração política, um grande professor com percurso sempre de construção na academia; Além desse percurso todo foi acrescentando desde que se jubilou da universidade e abandonou a atividade politica e partidária quotidiana, uma veterania e uma serenidade, um carisma adicional, que a idade acrescenta”, desenvolveu.
Para o advogado, que também foi presidente do Partido CDS-PP, o gesto de Adriano Moreira, como ministro do Ultramar, de abolir o Estatuto do Indigenato é de “um democrata cristão avant la lettre”.
“Um gesto de grande inspiração, ousadia, e que é característico de um humanista, de um democrata cristão.”
No Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP 2, José Ribeiro e Castro salientou também que Adriano Moreira seguiu os Papas, desde Pio XII até Francisco, de quem era um admirador confesso.
“Faz parte de pessoas da sua geração e geração seguinte esse entendimento da política como serviço, como o Papa repetidamente chamam a atenção para isso, o serviço dos outros. E, nomeadamente, com intenso cariz social, um tipo específico de solidarismo, um modo livre, o impulso da solidariedade”, desenvolveu.
Neste contexto, lembrou que Portugal continua “com enormes problemas do ponto de vista da pobreza, o risco de pobreza extrema perto de 20%, pobreza cerca de 30%” e um “número elevado de pessoas em situação de sem-abrigo”.
À Agência ECCLESIA, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente manifestou o seu pesar pela morte de Adriano Moreira e evocou uma relação de várias décadas, com a última conversa, há duas semanas, a ter como pano de fundo a “preocupação com o futuro da Doutrina Social da Igreja”.
Para José Ribeiro e Castro isto mostra “o que era o pensamento e a preocupação” de Adriano Moreira, “venerável ancião”, que já estava numa “situação muito fragilizada”.
Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, a 6 de setembro de 1922; estudou no Liceu Passos Manuel e licenciou-se em Ciências Histórico-Jurídicas, pela Faculdade de Direito de Lisboa, em 1944.
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