Sociedade: «A violência não é o registo normal do desporto» – Coordenador do Plano Nacional de Ética (c/vídeo)

José Carlos Lima destaca necessidade de educar para valores

Lisboa, 29 fev 2020 (Ecclesia) – O coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto disse que todos na sociedade “têm de incutir” a dimensão da “racionalidade no desporto” para que a “paixão não tome conta e de certa forma a violência”.

“A nossa missão é um bocadinho a educação para os valores, chamar a atenção para a dimensão positiva do desporto, o apaixonado é interessante, é importante haver paixão, mas não pode ser só paixão”, afirmou José Carlos Lima.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto em Portugal explicou que “a violência não é o registo normal do desporto” e salientou que existem “imensos jogos a nível das diversas modalidades”, as diversas federações “trabalham” o campo da violência, e “o registo é tranquilo, em que se cumpre as regras do jogo”.

Neste contexto, observou que o futebol “é um jogo muitíssimo simples, tem 17 regras simplesmente”, mas tem de ter alguma coisa “para além do simples” para as pessoas aderirem a esse desporto e indica que existe uma “dimensão simbólica muito grande” que remete para a “dimensão da identidade, da luta”, onde se podem expressar e “há uma certa catarse”.

José Carlos Lima assinala que “a violência no desporto não é algo novo, o racismo, os hooligans”, mas vem dos “anos 70” e refere que no livro ‘a tribo do futebol’, o autor caracteriza “muito bem esta violência”, a dimensão tribal que existe no futebol, a “identidade clubística, a dimensão da sacralidade que o desporto tem, os heróis, os apetrechos e os cachecóis, toda essa liturgia que existe no desporto”, bem como “a dimensão da luta” e também do “respeito, do lúdico, e a dimensão do educar”.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou e realçou o trabalho da ‘Academia do Johnson’, no último dia 25, uma associação criada por João Semedo, no Bairro do Zambujal, na Amadora, Distrito de Lisboa.

“A ‘Academia do Johnson’ é um bom exemplo de como o desporto pode ser uma ferramenta de transformação da sociedade; É um exemplo muito interessante porque passou por fases difíceis da sua vida, foi preso, mas quando saiu viu a necessidade de transformar a sociedade através do desporto”, desenvolveu, explicando que a associação acolhe crianças de bairros sociais, “com dificuldades de aprendizagem, de disciplina”, e através da atividade desportiva “consegue transformar aquela realidade, aquelas crianças para a vida”.

A 1 de junho de 2018, o Vaticano publicou um documento sobre o desporto, numa reflexão que alerta para questões como a corrupção, doping, apostas e a falta de respeito pelos limites físicos dos atletas.

Ao longo de cinco capítulos ‘Dar o melhor de si – documento sobre a perspetiva cristã do desporto e da pessoa humana’, do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé), aborda a evolução do desporto na história, a relação da Igreja Católica com esta realidade ou uma análise “antropológica” do fenómeno.

“O Papa diz que o desporto ocupa uma centralidade muito grande no espaço do ser humano, e dá um contributo muito grande dizendo que o desporto é o exercício para os valores”, acrescentou José Carlos Lima, realçando que essa é uma “imagem fantástica” de Francisco.

No setor das publicações, o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto destaca ainda a apresentação de dois livros, um com o título ‘Desporto, humanismo e tecnologia’, no dia 5 de março, pela da Universidade Católica Portuguesa que “promove a reflexão” da “dimensão mais espiritual, reflexiva, para a dimensão desportiva”.

PR/CB

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