Lisboa, 12 out 2013 (Ecclesia) – Isabel Guerra, professora da Universidade Católica Portuguesa, apresentou hoje em Lisboa uma reflexão sobre a violência juvenil, doméstica relacionando-os com a crise/austeridade e a pobreza.
Na conferência «A violência da crise e a proliferação das armas», promovida pelo Observatório Permanente sobre a Produção, Comércio e Proliferação de Armas Ligeiras, ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, Isabel Guerra apresentou dados da Associação de Apoio à Vitima (APAV) que demonstram que em 2010 houve uma quebra na violência doméstica depois de uma “ligeira subida”, em 2008 e novamente em 2012.
A interveniente apresentou também estatísticas que mostram o impacto da crise e das medidas de austeridade nos agregados familiares e destacou que “a maior violência é a pobreza”.
Em países como a Irlanda, a Espanha, Grécia e Reino Unido, a “crise provoca um decréscimo no rendimento das famílias mais pobres”, com a diminuição de 7% nos rendimentos e de 10% nas mais ricas enquanto Portugal “penaliza os mais pobres e alivia os mais ricos”.
Em forma de interrogação, a especialista refletiu sobre quem são os culpados pela violência: “A sociedade que não protege as famílias, o Estado que não compensa a reinserção ou os sujeitos que têm predisposição para a violência?”.
A conferencista alertou para a importância de não se valorizar um fator, “que se considera problemático”, uma vez que existem muitas “teorias de violência que privilegiam um ou outro contexto”.
No debate introduziu a tolerância zero da ação da polícia e o impacto da violência nas “comunidades/regiões mais degradadas” como os considerados “bairros sociais” e a importância de “programas de incentivo” nestas comunidades.
“O que se discute não é mais a polícia mas a qualidade da sua intervenção. Na Europa não há um aumento dos polícias, a cada mil habitantes, mas há mais presos”, exemplifica.
A docente revelou que os “jovens dos bairros sociais” consideram “as intervenções policiais mais violentas” mas também assinalou que esta “é difícil onde há as regras dos bandos”.
Isabel Guerra também refletiu sobre a relevância da organização do espaço para a violência/crime e se as cidades são preparadas para que estes casos não se propiciem e explicou que existem arquitetos que trabalham estes assuntos, como as acessibilidades e a visibilidade, para que os espaços sejam “mais harmoniosos para a vida social”.
A violência juvenil foi a última dimensão apresentada com estudos que mostram fatores que influenciam uma “carreira de criminalidade desde muito cedo”: “a história biográfica dos jovens que propícia a entrada em comportamentos violentos” – família que emigrou ou faleceu; falta de acompanhamento; a busca da identidade no crescimento com a afirmação pela violência.
Segundo Isabel Guerra é “possível sair desta espiral de violência” e há fatores como “o cansaço de manter este papel; a capacidade de se afirmar noutros campos; a capacidade de distanciamento crítico” e exemplificou com o programa ‘Escolhas’ que acompanha o “individuo na dimensão intrapessoal e em sociedade” e apresenta “referência positivas”.
A conferência termina com uma intervenção de José Manuel Pureza e tem transmissão em direto, através do site http://directo.telecom.pt
CB