Sobressalto permanente

Vaga de raptos e de ataques atinge comunidade cristã na Nigéria

Foto: ACN

Uma vaga de raptos e de ataques está a sobressaltar a comunidade cristã na Nigéria. O caso mais recente, que envolveu o rapto de centenas de alunos e professores de uma escola católica, ocorreu apenas quatro dias depois de 25 alunas terem sido levadas em circunstâncias semelhantes de uma outra escola. O Papa Leão XIV manifestou já “profundo pesar” pelos raptos de estudantes, docentes e também de sacerdotes, e pediu a libertação imediata de todos os reféns.O incidente mais grave, pelo número de pessoas raptadas, ocorreu a 21 de Novembro em Papyri, estado situado na região centro-oeste do Níger. Na ocasião, terroristas armados que se faziam transportar em automóveis e motociclos, invadiram de madrugada o edifício da St. Mary, uma escola católica situada na região, entraram nos dormitórios e raptaram 303 alunos e 12 professores. Mais tarde, cerca de 50 alunos conseguiram escapar aos terroristas e nesta segunda-feira, dia 8 de Dezembro, a diocese anunciou a libertação de cerca de uma centena de crianças e jovens. Mesmo assim, permanecem em cativeiro cerca de 160 pessoas, na sua maioria menores de idade. Segundo informações recolhidas pela Fundação AIS, o ataque, em que “um segurança foi gravemente ferido a tiro”, provocou, como se imagina, “medo e angústia na comunidade escolar”. A Diocese de Kontagora condenou desde logo e veementemente o ataque e expressou profunda preocupação pela segurança das vítimas e suas famílias. O ataque a esta escola católica ocorreu apenas quatro dias depois de um incidente semelhante num colégio interno, o Government Girls Comprehensive Secondary School, situado na cidade de Maga, no Estado de Kebbi, no noroeste nigeriano.

Duro golpe para a comunidade

Também este ataque deixou a comunidade local em estado de choque e representou, segundo fontes locais contactadas pela AIS, um duro golpe para a educação das meninas, algo que é uma conquista bastante rara nesta região do país”. O ataque à escola em Maga apanhou os habitantes locais de surpresa, num momento em que parecia que a violência tinha diminuído nessa zona. “Justamente quando pensávamos que havia uma pequena pausa nos assassinatos e raptos”, a notícia do rapto destas cerca de 25 meninas “foi um golpe brutal, mergulhando a comunidade em grande dor”, explicou na ocasião a fonte local à Fundação AIS Internacional. A mesma fonte relatou que “os bandidos assaltaram a escola por volta das 3 horas da manhã e actuaram durante muito tempo sem resistência”. “O vice-director da escola, Mallam Hassan Yakubu Makuku, foi assassinado enquanto tentava proteger as suas alunas”, acrescentou a fonte. A comunidade local está assustada e pede uma intervenção imediata das autoridades. “Todas as famílias da zona estão unidas em oração e apelam ao Governo para que faça tudo o que estiver ao seu alcance para resgatar as crianças”, foi explicado à fundação pontifícia.

Muitas das alunas são cristãs

A fonte contactada pela AIS Internacional explicou também que a escola se encontra numa zona mista. O distrito de Danko/Wasagu, onde se situa o estabelecimento de ensino, é um dos enclaves religiosamente mais diversificados em Kebbi. Existem grupos maioritariamente cristãos, tornando a zona num enclave singular na região noroeste de maioria muçulmana. “É por isso que muitas das alunas são cristãs, tal como o vice-director assassinado”, confirmou a fonte. Embora nenhum grupo tenha reivindicado o ataque, a fonte alertou para a crescente profissionalização dos criminosos que actuam no noroeste da Nigéria. Os primeiros testemunhos apontam para o facto de os atacantes possuírem armas modernas e de alta qualidade técnica, um sinal da crescente sofisticação do crime organizado na região.

A história de Leah Sharibu

Ambos os ataques, quer o ocorrido na escola pública, quer o da escola católica, fazem lembrar os traumáticos sequestros de Chibok, em 2014, e em Dapchi, em 2018, tragédias cujos efeitos ainda pesam sobre a consciência nacional e que se tornaram um símbolo da crescente crise de segurança na Nigéria. Um desses sequestros traumáticos, o de Dapchi, aconteceu a 21 de Fevereiro de 2018. Nesse dia, terroristas do Boko Haram invadiram a Escola Técnica de Ciências, um estabelecimento de ensino oficial feminino, e levaram à força 110 alunas. Dali a poucas semanas, porém, todas as jovens seriam libertadas com excepção de Leah Sharibu, uma rapariga que então tinha apenas 14 anos de idade. Ela ficou em cativeiro por ser cristã e por ter recusado renunciar à sua fé como os terroristas exigiam. Apesar de se desconhecer o seu paradeiro, esta jovem transformou-se num dos símbolos mais poderosos da perseguição religiosa na Nigéria.

Paulo Aido

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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