«Sobre a tua Palavra lançarei as redes»

Linhas de força da X Assembleia Geral da SMBN Um povo/ metei-o na cadeia/ despojai-o/ tapai-lhe a boca:/ é ainda livre.// Tirai-lhe o trabalho/ o passaporte/ a mesa onde come/ a cama onde dorme:/ é ainda rico.// Um povo torna-se pobre/ quando lhe roubam/ as canções/ que aprendeu dos pais.// Então fica perdido para sempre . 1. Deus de Palavra, Palavra de Deus Deus fiel, fiável (Sl 31,6; Rm 3,4), Sim irrevogável (Is 65,16; 2 Cor 1,19-20), matriz fidedigna (Is 25,1), maternal amor preveniente, permanente (Is 43,4; Os 11,3-4; 1 Jo 4,10.19; Ap 1,5; 3,9), paciente (Ex 34,6; Sb 15,1; Ecli 18,9; Rm 2,4; 1 Pe 3,20; 2 Pe 3,9.15), palavra primeira e confidente, providente (2 Sm 7,28; Sl 119,160), eficiente (Gn 1,3-29; Jd 16,14; Sl 33,9; Sb 9,1; Is 55,11; Hb 4,12; 11,3), a dizer-se sempre (Is 40,8) e para sempre dita (Is 45,23), rochedo firme, abrigo seguro (Dt 32,4.15.18; 1 Sm 2,2; 2 Sm 22,2-3; Sl 18,3; 62,7; 144,1) , alcofa para o nascituro, luz no escuro (Is 9,1; Jo 8,12), amor forte sem medo do presente e do futuro (Rm 8,38-39). Deus fiel e confidente, fala, que o teu servo escuta atentamente (1 Sm 3,9-10). Nada do que dizes cairá por terra (1 Sm 3,19). A tua palavra à minha mesa, minha habitação, minha alegria, minha exultação, energia do meu coração (Jr 15,16), luz que me guia e que me alumia (Sl 119,105). A minha luz é reflexa, a minha palavra é lalação, de ti decorre, para ti corre a minha vida, dita, dada, recebida e oferecida (Sl 28,1; 42,2; 63,9; 119,73; 143,6; Sb 7,16). O teu rosto, Senhor, eu procuro (Sl 27,8), não escondas de mim o teu rosto, a tua música, Senhor (Sl 27,9). Dispõe de mim, Senhor (Is 6,8). 2. Palavra fecunda, casa iluminada Tu falas, tu fazes, tu chamas, tu ordenas. Todos os caminhos vêm de ti, vão para ti. És tu o Senhor de todos os chamados, de todos os reunidos, de todos os enviados. Tu és a casa, a mesa, o caminho, o vinho, o pão, o peixe. Velas por todos: pelos pais, pelos filhos, pelos irmãos, pelos desfilhados , pelos órfãos, pelos desirmanados. Vela por nós, Senhor, orienta a nossa barca, deita-te tranquilamente à popa (Mc 4,38): o teu sono sereno há-de serenar as nossas tempestades. A tua palavra faz-se mansamente em nós (Lc 1,38), a nossa tenda alarga-se, invade-nos o espanto: quem são e de onde vêm todos estes? (Is 49,20-21). Sim, a nossa terra é bela e jovem (Sl 144,12), a nossa casa tem luzes em todas as janelas, os nossos campos cobrem-se de frutos (Lv 26,4; Sl 67,7; 85,13), as árvores de pássaros (Mc 4,32), aumenta o tempo da debulha, do canto, da vindima (Lv 26,5; Sl 126,6), multiplicam-se os nossos rebanhos, chegam carregados os nossos bois, estão repletos os nossos celeiros (Sl 144,13-14; Jl 2,24), cheios de vinho novo os nossos odres (Jl 2,24; Mc 2,22), a transbordar de azeite as nossas almotolias (1 Rs 17,14-16; 2 Rs 4,1-6; Jl 2,24; Mt 25,1-13), são de alegria os nossos dias (Dt 16,15; Sl 63,6; 126,2-3; Is 65,18; Fl 4,4). 3. «Vou falar-lhe ao coração» Por isso, vou falar-lhe ao coração (Os 2,16), diz Deus, falai-lhe ao coração (Is 40,2), diz Deus. Convulsão (hafak) no coração de Deus (Os 11,8). Perdão que muda o coração (Ez 16,62-63; 36,31). Convulsão no nosso coração. Nova Anunciação (melhor e mais fundo do que «primeiro anúncio» e «nova evangelização»). O amor como vocação, como motor da missão (Carta Apostólica Redemptoris Missio (1990), n.º 60; Mensagem para o Dia Mundial das Missões (2006), n.º 3). A missão coração a coração. Em 2004, por ocasião dos 1250 anos do martírio de S. Bonifácio, Apóstolo da Alemanha, o Cardeal Karl Lehmann, Arcebispo de Mainz, dirigiu à sua Diocese uma Carta Pastoral, intitulada Testemenho missionário, em que se lê: «Tornámo-nos um mundo velho. Deixámo-nos vencer pelo cansaço (…). É necessário um radical revigoramento missionário da nossa Igreja. Não se trata apenas de reformar as estruturas. É preciso começar por cada um de nós. Se não estivermos entusiasmados pela profundidade e pela beleza da nossa fé, não podemos verdadeiramente transmiti-la nem aos vizinhos nem aos filhos nem às gerações futuras. (…) É necessário também ganhar outras pessoas para a nossa fé cristã e arrastar os cristãos que cederam ao cansaço ou que até abandonaram a Igreja (…). Devemos difundir verdadeiramente o Evangelho de casa em casa, de coração a coração». Nesta Carta Pastoral, o Cardeal Lehmann traça um quadro realista de uma Igreja que parece envelhecida e cansada, mas aponta também, com mestria e clarividência, as coordenadas que devem moldar o rumo do futuro: não basta reformar por fora estruturas e edifícios; é preciso reformar por dentro, mudar o coração, acendê-lo com a luz nova de Cristo e do seu Evangelho. No mesmo sentido, na cerimónia de encerramento do Congresso Internacional realizado em Roma, de 09 a 11 de Março de 2006, para celebrar e reflectir sobre o Decreto Conciliar Ad Gentes, no quadragésimo ano da sua promulgação (07 de Dezembro de 1965), referiu o Papa Bento XVI, entre outras coisas, que: «Não são, de facto, somente os povos não-cristãos e as terras distantes, mas também os âmbitos sócio-culturais, e, principalmente os corações, os verdadeiros destinatários da actividade missionária do Povo de Deus». Novo tempo, novo modo, nova Anunciação, nova missão coração a coração. 4. Evangelizar é a nossa maneira de ser Diz Paulo a Timóteo, mas nós podemos também receber estas palavras oportunas: «Recordo-te (anamimnêskô) que reavives (anazôpyreîn) o carisma (tò chárisma) de Deus que está em ti» (cf. 2 Tm 1,6). Reavivar o carisma é reacender o dom de Deus, como o fogo que se reacende das cinzas, como se vê pelo verbo grego, e como bem explica o Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis (1992), n.º 70. Para que o dom de anunciar o Evangelho arda no nosso coração, mas arda também no coração de cada baptizado, dado que evangelizar é a nossa maneira de ser, mas é também a maneira de ser da Igreja, de toda a Igreja (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (1975), n.º 14; Carta Apostólica Redemptoris Missio, n.º 62), isto é, de todos os cristãos, de todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais (Carta Apostólica Redemptoris Missio, n.º 2 e 61-76; Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (2001), n.º 40; Instrução Diálogo e Anúncio (1991), n.º 82; Documento Atitude da Igreja face aos seguidores de outras religiões. Reflexões e orientações sobre diálogo e missão (1984), n.º 10 e 14). 5. Todos operadores da missão Traduzindo de forma sintética o conteúdo dos números que compõem o Capítulo VI da Carta Apostólica Redemptoris Missio (n.º 61-76) que trata de «Os responsáveis e os agentes da pastoral missionária», refere o missiólogo Francesco Pavese: «Fica claro que a RM, de forma diferente do Ad Gentes, recenseia os sacerdotes, os consagrados e os leigos, não entre os “cooperadores”, mas entre os “operadores” da missão, modificando desta forma substancialmente o ângulo de visão e impedindo qualquer futuro equívoco acerca da natureza da sua vocação missionária» (F. PAVESE, Vocazione missionaria, in Dizionario di missiologia, Bolonha, EDB, 1993, p. 544). Precisamos de abertura, de humildade, de coragem, de uma nova alegria, de um coração novo, para sabermos acolher e estimular todos os irmãos e irmãs que Deus quiser enviar a trabalhar connosco nos caminhos sempre novos da sua missão e na alegria da sua messe (Mt 10,37; Lc 10,2). Juntos aprenderemos melhor o sabor da paz e a alegria de rezar ao Deus da nossa consolação (Sl 122,8-9). 6. Reconfiguração, simplificação, comunhão Enraizados e fundados no amor (Ef 3,17), é necessário compreender a riqueza da pobreza, lição que brota do amor verdadeiro (2 Cor 8,9). É necessário viver nesse caminho, que és tu, Senhor (Jo 14,6). Leves e livres (Mt 10,8-10; Mc 6,8-9; Lc 9,3), como leve e livre é o teu fardo (Mt 11,28-30). É necessário trabalhar honestamente com empenho e dedicação total e viver em comunhão de oração e coração (Act 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16). É necessário compreender sempre melhor que «um companheiro é um tesouro» (Ecli 6,14). E é ainda necessário descobrir em cada dia, com alegria, que há uma coisa necessária, uma só, para nos pormos, de coração indiviso, ao serviço de Deus e do seu Evangelho (Sl 27,4; Mc 10,21; Lc 10,42). 7. Linhas de rumo para o quadriénio 2006-2010 Saímos da nossa X Assembleia Geral, realizada entre 17 de Julho e 04 de Agosto de 2006, com o lema «SOBRE A TUA PALAVRA LANÇAREI AS REDES» (Lc 5,5), que aponta o rumo programático para o quadriénio 2006-2010: todos à escuta da Palavra de Deus, que deve alimentar toda a nossa vida, paixão e acção missionária, no seguimento fiel de Cristo e das palavras oportunas da Carta que Sua Eminência o Senhor Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, dirigiu ao Superior Geral da SMBN, em 07 de Julho de 2006. A Palavra que Deus nos comunica é a nossa matriz, alimento e bússola. Partindo deste chão firme e acolhedor, vamos fazer do ano pastoral 2006-2007 um intenso átrio vocacional, sob o lema «CONVOCADOS E CONVOCADORES»: a Palavra de Deus em nós, e, através de nós, para todos. É o tempo da alegria da colheita, e de todos sentirmos como nosso o Serviço de Promoção Missionária e Vocacional. Sempre sem perder o pé dos verdadeiros fundamentos, dedicaremos o ano pastoral 2007-2008 à formação, sob o lema «TORNAR-TE-EI FECUNDO»: todos estamos em formação, todos somos formadores. Temos de saber abrir a nossa vida à Palavra de Deus, a única que pode dar fecundidade à nossa vida. É o tempo de mostrarmos todo o nosso apreço e comunhão aos nossos companheiros que trabalham mais de perto nos Seminários. Para avivar esta chama, realizaremos em 2008 um encontro de todos os formadores dos nossos Seminários. A comunhão e comunicação deve estender-se também a todos os seminaristas dos nossos seminários. Em 2008-2009, queremos sentir bem acesa a nossa chama na luz de Cristo. É o tempo do testemunho apostólico e missionário, que viveremos sob o lema «REACENDER O DOM DE DEUS». É o tempo de nos sentirmos felizes por Deus nos ter confiado a sua messe. É o tempo de sentirmos e mostrarmos vivo apreço por cada companheiro que Deus nos deu, dado que um companheiro é um tesouro. O ano pastoral 2009-2010 será confiado à reconfiguração, simplificação e agilização da nossa maneira de viver, das nossas estruturas e dos nossos Centros Missionários. O lema será «SEGUI-L’O NO CAMINHO». É oportuno tomar consciência da vastidão do trabalho que estamos a fazer, onde e como, e procurar discernir como podemos dar melhor testemunho e o que podemos fazer melhor hoje. É nisso que devemos concentrar as nossas energias. A todos os meus companheiros peço o máximo empenho e dedicação na escuta e na comunicação da Palavra de Deus, na vivência do amor fraterno e na realização da missão que Deus nos confiou. Que o Deus do Amor nos abençoe e nos guarde sempre unidos na casa da sua bondade. Que Maria, nossa Mãe e Padroeira, nos ensine a viver a sua simplicidade e alegria. Valadares, 01 de Outubro de 2006, dia do Senhor e de Santa Teresa do Menino Jesus, Padroeira Universal das Missões Pe. António Couto

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