Situação das crianças afectadas pelo sismo na Ásia preocupa a Igreja

O destino das crianças afectadas pelo sismo na Ásia está a preocupar a Igreja presente na região. Do estado indiano de Tamil Nadu chegam vozes de possíveis sequestros de crianças, para receber os fundos do governo destinados aos órfãos. D. Devadass Ambrose Mariadoss, Bispo de Tanjore, denunciou o risco de que se esteja a promover o “comércio” de crianças, com finalidade de proveito pessoal. O governo da Índia decidiu doar 200 mil rúpias (o equivalente a mais de 4.500 dólares) a cada criança que perdeu os pais no maremoto. Para Paul Baskar, presidente da ONG “Peace Trust” em Tamil Nadu, “as crianças são duplamente vítimas desta tragédia: cerca de metade dos mortos são menores e os que não perderam a vida ficaram órfãos de um ou dois dos pais”. Os missionários presentes no local consideram que as crianças “são os elementos mais fracos e vulneráveis” de entre as vítimas do maremoto. A agência missionária Misna recolheu uma série de testemunhos de religiosos e religiosas no local da tragédia, relatando histórias de crianças que “perderam os seus pais, foram feridos ou ficaram sem nada”. Muitas crianças que ficaram órfãs foram acolhidos pela “família alargada”. Teme-se, contudo, o surgimento dos raptos, especialmente no Sri Lanka, por acção dos guerrilheiros do Liberation Tiger of Tamil Eelam (LTTE), para utilizar as crianças como soldados. Fontes da Nunciatura Apostólica em Colombo referiram à agência Fides, do Vaticano, que não há, pelo momento, “evidências ou confirmação de raptos de crianças, órfãs, para redes de pedofilia, tráfico de órgãos ou escravatura”, embora reconheçam essa preocupação. O representante do Papa no terreno pede cautela na avaliações das notícias divulgadas por estes dias. Na Indonésia, o director do JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados), Pe. Edi Mulyono, procurou afastar cenários catastróficos em relação a esses mesmos raptos, adiantando que a sua preocupação principal vai antes para outro problema: “as crianças de Aceh têm necessidade de assistência médica e deveriam ser transferidas para Samatra, onde há hospitais mais bem equipados”. O Pe. Adriano Pelosin, missionário na Tailândia, refere à Misna que é urgente ajudar as crianças que ficaram órfãs, para evitar que “fiquem sós, abandonem a escola e acabam nas ruas, onde as espera uma vida duríssima e feita de expedientes”. Em relação à hipótese de adopção dos menores atingidos pelo Tsunamis, os missionários presentes na Tailândia consideram que “a melhor solução é que eles permaneçam nas suas próprias famílias, junto dos parentes mais próximos”. “Se alguém quiser ajudar estas crianças, que faça chegar ao país o seu auxílio económico, porque não é bom que elas sejam afastadas do seu núcleo de origem e submetidas a um trauma acrescido”, apontam. A Igreja Católica já começou a elaborar listas dos menores afectadas pela tragédia, de modo a evitar “qualquer lucro mal intencionado com desaparecimento de crianças que possa surgir da confusão destes dias”. Solidariedade À imagem do que vem acontecendo nas dioceses portuguesas, a Igreja Católica na França, Escócia, Irlanda, Bélgica e Alemanha continua a mobilizar-se com vigílias de oração e acções de solidariedade em favor populações atingidas pelo maremoto, no sudeste da Ásia. Na França, respondendo a um apelo da Cáritas, as dioceses dedicaram o primeiro domingo de 2005 a rezar pelas vítimas e os sobreviventes da tragédia, e à colecta de fundos para a reconstrução dos países atingidos. O Presidente do Conselho Nacional da Solidariedade, D. André Lacrampe, disse que, nestes primeiros dias do ano, “todos estão convocados a reflectir sobre o sentido da vida humana, que deve assumir a forma da responsabilidade social, da solidariedade internacional e da fraternidade universal”. Em Paris, o Cardeal Jean-Marie Lustiger, Arcebispo da cidade, celebrou a missa na Catedral de Notre-Dame, com as comunidades cingalesa e indiana que residem na capital francesa. O líder da comunidade católica na Escócia, Cardeal Keith O’Brian, enviou uma mensagem de solidariedade aos presidentes das conferências episcopais dos países do sudeste asiático. Ontem, na Catedral de Santa Maria, de Edimburgo, o Arcebispo celebrou a missa especialmente em memória das vítimas do desastre natural. Na homilia, pediu aos governos ocidentais que “façam o possível para ajudar na reconstrução”. Na Irlanda serão celebradas missas especiais pelas vítimas, no próximo fim de semana, 8 e 9 de Janeiro. As missas são um pedido do Arcebispo de Dublin, D. Diarmuid Martin, recordando também que nestes dois dias serão recolhidos fundos destinados aos países do sudeste asiático. A Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales conseguiu recolher já mais de 4 milhões de Euros, “um valor sem precedentes” como confirma o Cafod, organismo equivalente à nossa Cáritas. O Padre Geral do Jesuítas, como gesto de solidariedade, colocou 10 mil Euros ao dispor das Províncias de Sri Lanka e de Madurai, as mais atingidas de momento. A “Rede Xavier”, uma ONG recente com sede em Espanha, que, para além de duas ONG espanholas, uma alemã e uma italiana, engloba as portuguesas “Fundação Gonçalo da Silveira” e “Leigos para o Desenvolvimento”, decidiu, de imediato, disponibilizar 15 mil Euros, mas começando já a estudar o apoio mais eficaz e prolongado na fase de reconstrução e de reabilitação. O JRS prepara a montagem de cozinhas comunitárias de grandes dimensões. Há falta de comida e de água, e o JRS irá ainda fornecer panelas e tachos grandes às famílias necessitadas. Na Tailândia, por iniciativa do Cardeal Michai Kitbunchu, presidente da Conferência Episcopal local, foi instalado junto de Phuket um centro de assistência, coordenação e distribuição das ajudas para a população local, com a colaboração da Cáritas e dos institutos religiosos no país.

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