Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal comenta estudo do INE que identificou pelo menos dois milhões de pessoas em situação precária
Lisboa, 25 mar 2014 (Ecclesia) – A Rede Europeia Anti Pobreza em Portugal diz que a existência de dois milhões de portugueses em situação precária no país “é uma chamada de atenção” para que as políticas que têm sido seguidas nos últimos anos “possam ser alteradas”.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, o presidente daquele organismo, padre Agostinho Moreira, sublinha a necessidade de mudar um “sistema de governação que continua a produzir muitos pobres”, antes que esta situação se torne “galopante”.
Para o sacerdote, “é necessária uma estratégia que envolva as entidades públicas e privadas” e o estabelecimento de “parcerias, particularmente com as redes sociais locais, com as autarquias”, que permitam responder às “causas da pobreza”, que são de natureza “estrutural“.
“Tem a ver com a gestão e a economia nacional, que gera estas assimetrias enormes e tira às pessoas o acesso a oportunidades básicas da saúde, do ensino e até da habitação”, exemplifica aquele responsável.
Um inquérito publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as Condições de Vida e Rendimento dos portugueses, divulgado esta segunda-feira, permitiu identificar 1.961.122 casos de pessoas atualmente no limiar da pobreza, quase 19 por cento da população do país.
A situação agravou-se nos últimos nove anos, atingindo principalmente os desempregados, as famílias com filhos a cargo e os jovens menores de 18 anos.
Com recurso a uma lista de itens, que compreendia as mais diversas necessidades básicas, o INE apurou que o número de pessoas em dificuldades para aceder a uma refeição ou para pagar renda de casa aumentou entre 2012 e 2013.
Ficou a saber ainda que a percentagem de pessoas em situação de privação material severa subiu de um ano para o outro de 8,6 para 10,9 por cento.
“Manter as coisas como estão não é caminho”, reforça o padre Agostinho Moreira, que propõe “um estudo sério” sobre a situação das populações, o que é que conduziu a este cenário negativo e o que pode ser feito para o alterar, tendo como figura “preponderante” o Governo e mais concretamente “o primeiro-ministro” Pedro Passos Coelho.
A Rede Europeia Anti Pobreza em Portugal publicou recentemente um manifesto intitulado “Para erradicar a pobreza e a exclusão social ─ marcos de uma estratégia inadiável”.
Através desse documento, que já foi assinado por diversas figuras e instituições da sociedade portuguesa, como Alfredo Bruto da Costa, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz ou a Cáritas Portuguesa, o organismo pretende “pôr em marcha um processo participado de análise e agregação de ideias e posteriormente chegar a um consenso sobre uma Estratégia nacional de Erradicação da Pobreza e da Exclusão Social em Portugal”.
Uma das iniciativas previstas no manifesto é a realização de um seminário na Assembleia da República, com representantes dos diversos partidos, sobre “o papel da Luta Contra a Pobreza no futuro da Europa”, no dia 16 de abril.
Em causa está “sensibilizar os vários partidos para que comecem a pensar no bem comum e vejam como se pode defender uma democracia onde a dignidade da pessoa esteja em primeiro lugar”.
Neste momento, “a dignidade das pessoas não está a constar muito nos programas políticos e partidários”, elas estão postas “de lado”, conclui o padre Agostinho Moreira.
JCP