Síria: «Não há liberdade religiosa ou de outro tipo», alerta arcebispo sírio-católico de Homs

D. Jacques Mourad afirma que «a Igreja na Síria está a morrer»

Lisboa, 06 nov 2025 (Ecclesia) – O arcebispo Sírio-Católico de Homs, Hama e al-Nabek, na Síria, afirmou que a situação neste país “está muito complicada”, “não há liberdade religiosa ou de outro tipo”, e não têm “uma visão clara para o futuro”, após 11 anos de guerra.

“Penso que a ideia da liberdade religiosa é muito importante, porque hoje o nosso país é semelhante ao Afeganistão. Ainda não tem o mesmo nível de violência, mas não estamos longe deles, dos habitantes de Afeganistão. E não falo só do problema da vingança, há muitos outros tipos de pressões, perseguições no nosso país”, disse D. Jacques Mourad, no lançamento do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), em Roma, na Itália.

Na informação enviada à Agência ECCLESIA, esta quinta-feira, dia 6 de novembro, pelo secretariado português da AIS, o arcebispo Sírio-Católico explicou que após 14 anos de guerra civil, que terminou no final de 2024, a situação na Síria “está muito complicada” – “concretamente não temos uma visão clara para o futuro” – e lamentou que, desde 2011, “a guerras, conflitos internos” se tenham multiplicado pelo mundo.

No dia 8 de dezembro de 2024, após 14 anos de guerra civil, a demolição de um monumento dedicado a Hafez al-Assad, o pai do presidente sírio Bashar al-Assad, em Damasco, capital da Síria, conquistada pelas milícias do Hayat Tahrir al-Sham (Hts), marcou o fim de uma família no poder nesta nação árabe desde 1971.

A Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre calcula que vivam cerca de 540 mil cristãos na Síria, quando eram cerca de 2,1 milhões quando a guerra civil começou em 2011, e assinala que com o país “mergulhado numa profunda crise económica”, as famílias estão estranguladas financeiramente, muitas vezes mal conseguem sobreviver.

Foto: Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

“Nenhum dos esforços da Igreja Universal ou da Igreja local conseguiu conter a onda de êxodo, porque as causas não estão relacionadas com a Igreja, mas sim com a desastrosa situação política e económica do país. Não se pode parar uma onda de migração sem primeiro estabelecer um modelo de governo político bem definido na Síria e um sistema de segurança sólido”, desenvolveu D. Jacques Mourad, no dia 21 de outubro, na capital italiana.

Neste Ano Santo 2025, que a Igreja Católica está a celebrar dedicado ao tema da esperança, o arcebispo Sírio-Católico de Homs, Hama e al-Nabek afirma que têm “esperança devido à fé”, não só à fé cristã, “mas também à fé muçulmana”, que vem da “confiança”, com a comunidade internacional, com o governo local.

“A nossa confiança é só uma confiança em Deus. E, por isso, o povo da Síria precisa de encontrar um local seguro, um local de paz. Se esta crise continuar, os cristãos continuarão a dispersar-se no mundo, pois isso significa que a raiz do cristianismo que vem do Médio Oriente deixará de existir. Isso significa que a igreja já não estará conectada com a própria raiz. E isso é realmente importante”, acrescentou.

O arcebispo Sírio-Católico agradeceu também a solidariedade dos benfeitores e amigos da Fundação AIS espalhados pelo mundo que “tornam possível aliviar o sofrimento dos cristãos necessitados e perseguido”.

Foto: D. Marek Weresa, em Vatican News; D. Jacques Mourad e D. Kurt Koch ao centro

D. Jacques Mourad, que foi raptado pelo Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, em 2015, defendeu a importância do diálogo inter-religioso, no dia 19 de outubro, quando recebeu o ‘Prémio São João Paulo II’, do Vaticano, pelo prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé).

“Foi a Igreja que travou uma nobre batalha durante estes anos difíceis em toda a Síria, e hoje, especialmente na Síria, somos chamados, tanto cristãos como muçulmanos, a reconhecer e desenvolver os laços que nos unem”, disse o arcebispo Sírio-Católico de Homs, Hama e al-Nabek, na cerimónia de entrega do prémio que reconhece os “méritos da sua vida, do seu testemunho de fé, amor cristão, diálogo inter-religioso e compromisso com a paz e a reconciliação”, explicou o cardeal Kurt Koch.

CB/OC

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