Síria: Fundação pontifícia AIS alerta para nova vaga de violência contra os cristãos

«Falem junto das autoridades, façam qualquer coisa, ao menos para levantar a voz contra o que se está a passar, e rezem por nós», pede a irmã Maria Lúcia Ferreira, religiosa portuguesa

Lisboa, 17 jul 2025 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) informa que recebeu “relatos alarmantes de ataques” que atingiram comunidades cristãs em diferentes regiões da Síria, nas últimas horas, uma situação que reflete “a insegurança que se vive no país”.

“Dezenas de casas de cristãos foram queimadas nesta terça-feira, dia 15, na região de Suwayda (na aldeia de Al-Soura Al Kabira, no sul da Síria), tal como uma igreja foi atacada, e registou-se ainda um atentado frustrado contra outro templo cristão. Tudo isto está a deixar um sentimento crescente de medo entre os fiéis”, resume o secretariado português da AIS, numa nota enviada, esta quinta-feira, à Agência ECCLESIA.

Na aldeia de Al-Soura, “assaltantes desconhecidos”, atacaram e incendiaram a igreja greco-melquita de São Miguel, segundo várias fontes locais ligadas à fundação pontifícia, mas a “extensão total dos danos” não foi confirmada porque é “impossível” o acesso à zona “devido à tensão em toda a região”.

Na mesma zona, 38 casas de cristãos foram também “incendiadas e destruídas”, muitas famílias ficaram sem-teto e cerca de 70 pessoas procuraram refúgio no salão de igreja em Shahba, onde estão em condições precárias.

“Esta comunidade perdeu tudo. Tinham muito pouco, já eram dos mais pobres da região, e agora não têm mais nada”, acrescentou fonte local à AIS Internacional.

Segundo a fundação pontifícia, a violência chegou também à aldeia vizinha de Al-Mazraa, ainda não conhecem pormenores, mas acredita-se que o “ataque esteja ligado a tensões sectárias e a atividades extremistas na região, exacerbadas por anos de conflito e instabilidade no país”, os agressores “não foram identificados”.

Já na vila de Al-Kharibat, na província de Tartous, no oeste da Síria, autoridades e populares “impediram um atentado à igreja maronita de Mar Elias”, à meia-noite deste domingo, dia 13 de Julho, quando descobriram “um velho automóvel dos tempos soviéticos”.

Estacionado perto da igreja, o automóvel marca Lada estava “carregado com grandes quantidades de explosivos, armas e panfletos de propaganda”, os terroristas foram capturados numa emboscada.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre lembra que estas situações acontecem a “menos de um mês do atentado suicida” contra a igreja ortodoxa de Santo Elias, que “mais de 80 vítimas, entre mortos e feridos”, durante a liturgia dominical, de 22 de junho, no bairro cristão de Dweil’a”, em Damasco, a capital da Síria.

Foto: Fundação AIS

A irmã Maria Lúcia Ferreira, religiosa portuguesa que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, na Síria, enviou uma mensagem para o secretariado português da AIS, em Lisboa, a apelar à ajuda do ocidente e às orações de todos.

“A situação é realmente delicada, e os cristãos têm medo e só têm uma ideia na cabeça, principalmente os mais jovens, que é partir daqui para fora”, assinalou.

A monja de Unidade de Antioquia, mais conhecida como irmã Myri, referiu-se ao eco dos incidentes que estão a envolver a minoria árabe drusa, na região de Suwayda, a sul da capital síria, sobre o ataque por Israel, esta quarta-feira, 16, a um edifício governamental em Damasco.

A irmã Maria Lúcia Ferreira confirmou o atentado frustrado à igreja em Tartous, e os ataques em Suwayda, não só à igreja, “queimaram a igreja às 4 horas da manhã, pelo que estava vazia, graças a Deus!!”, e as casas dos cristãos.

“Se as pessoas estão vivas é porque fugiram todas para se refugiarem nas igrejas. A situação é muito delicada e muito urgente”, acrescentou.

“Rezem por nós, intervenham, falem junto das autoridades, façam qualquer coisa, ao menos para levantar a voz contra o que se está a passar, e rezem por nós”.

A Fundação AIS apela também aos cristãos de todo o mundo para que “rezem pelas vítimas, pela paz na Síria e pela proteção das comunidades mais vulneráveis”, e reafirma o compromisso de “continuar a prestar ajuda espiritual, psicológica e material”, com apelo à solidariedade da comunidade internacional neste momento crítico.

CB/OC

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