Síria: «As portas e as janelas tremiam», afirma religiosa portuguesa

Irmã Myri conta que «as pessoas estão a fugir de suas casas e querem entrar na Síria» por causa dos conflitos no Líbano

Foto: D.R

Lisboa, 02 out 2024 (Ecclesia) – A irmã Maria Lúcia Ferreira (Myri), das Monjas de Unidade de Antioquia, vive na Síria desde 2008, num mosteiro perto da fronteira com o Líbano onde “portas e as janelas” tremem com as explosões no país vizinho.

“No outro dia estávamos a preparar a hospedagem a um grupo [de peregrinos], e, de vez em quando, as portas e as janelas tremiam, uma senhora que nos estava a ajudar perguntava o que era aquilo: era o Líbano”, disse a religiosa, ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Maria Lúcia Ferreira, a irmã Myri, vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, da congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, na vila de Qara, perto da fronteira com o Líbano, onde a preocupação é geral.

“Estamos um bocadinho com o coração nas mãos e aqui à nossa volta toda a gente [se questiona] sobre o que vai acontecer”, partilhou a religiosa portuguesa da comunidade de clausura fundada num antigo mosteiro do século VI, que reconstruíram.

As Nações Unidas calculam que, pelo menos, cerca de 100 mil pessoas, libaneses e sírios, atravessaram a fronteira rumo à Síria nos últimos dias, segundo dados divulgados esta segunda-feira, dia 30 de setembro, destaca a AIS.

“Um dos postos de fronteira, a uns 50 quilómetros para norte, foi bombardeado”, conta a irmã Maria Lúcia Ferreira, observando que “as pessoas estão a fugir de suas casas no Líbano e querem entrar na Síria”.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre contextualiza que o Líbano, um país com cerca de 4 milhões de habitantes, tem “uma forte comunidade da Síria, pessoas que fugiram da guerra”, mas, especialmente desde 2019, com o agravar da situação económica nesse país, estimam que cerca de 80 % da população viva abaixo do limiar da pobreza, e muitos sírios, entre eles muitos cristãos, manifestam vontade em regressar ao país de origem.

A fundação pontifícia apoia mais de 300 projetos no Líbano, o secretariado português da AIS explica que esta relação se aprofundou após a “enorme explosão que destruiu o porto de Beirute”, e alguns dos bairros da capital libanesa, a 4 de agosto de 2020.

Em Portugal, recentemente, a AIS lançou uma campanha de ajuda ao regresso às aulas das crianças cristãs libanesas, mas, agora, a urgência é dar resposta à nova crise desencadeada com ao conflito entre Israel e o Hezbollah, a organização política e paramilitar islâmica xiita.

“As pessoas estão agora a viver em salões das igrejas, pelo que vão precisar de alimentos, produtos sanitários, colchões, cobertores e, se a situação se mantiver, vamos precisar de aquecimento para o inverno, embora, claro, esperemos que isto não dure tanto tempo”, explicou a coordenadora dos projetos da Fundação AIS para o Líbano, Marielle Boutros.

O Papa convocou hoje um dia de oração e jejum pela paz, alertando para o cenário “dramático” que se vive no mundo, com o agravamento de vários conflitos.

“A 7 de outubro, peço a todos que vivam um dia de oração e de jejum pela paz do mundo”, disse Francisco, esta quarta-feira, na homilia da Missa de abertura da segunda sessão da XVI Assembleia Sinodal, na Praça de São Pedro.

CB

O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se de emergência para discutir o agravamento da situação no Médio Oriente, após um ataque do Irão a Israel, com cerca de duas centenas de mísseis balísticos.

A ofensiva acontece após uma série de ataques israelitas contra o sul do Líbano, que atingiram comandantes do Hezbollah e provocaram uma crise humana, com a fuga de milhares de pessoas.

A tensão no Médio Oriente aumentou após o ataque de 7 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez 1.05 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.

Israel iniciou operações contra o Hamas na Faixa de Gaza, provocando pelo menos 41 467 mortos e 95 900 feridos, além de mais de 10 mil desaparecidos, segundo números do Ministério da Saúde local.

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Agência ECCLESIA

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