Síria: Arcebispo de Homs alerta que «a maior parte das pessoas não tem dinheiro» para o aquecimento, para comprar pão

«Sentimos a responsabilidade de construir um futuro para o nosso país» – D. Jacques Mourad

Lisboa, 09 jun 2025 (Ecclesia) – O arcebispo sírio-católico de Homs (Síria) afirma que o povo “vive sem dignidade e sem confiança uns nos outros, no governo ou na comunidade internacional”, num país onde “não existem regras ou normas gerais” e a Igreja é esperança.

“O povo sírio vive sem dignidade e sem confiança uns nos outros, no governo ou na comunidade internacional, e isto é um fardo pesado para as pessoas”, disse D. Jacques Mourad, numa conferência de imprensa ‘online’ da Fundação AIS Internacional, citado pelo secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre.

No dia 8 de dezembro de 2024, após 14 anos de guerra civil, a demolição de um monumento dedicado a Hafez al-Assad, o pai do presidente sírio Bashar al-Assad, em Damasco, capital da Síria, conquistada pelas milícias do Hayat Tahrir al-Sham (Hts), marcou o fim de uma família no poder nesta nação árabe desde 1971.

Segundo o arcebispo sírio-católico de Homs, muitas famílias cristãs continuam a tentar abandonar o país, e muitos sunitas – a religião maioritária na Síria – desconfiam dos militantes que vagueiam pelas ruas, e explica que, ao longo da história do país, “nunca houve uma única religião, houve sempre diversidade”.

“Este é um lugar de encontros, onde todas as civilizações e religiões se encontram. Os nossos vizinhos sunitas dizem-nos que não estão contentes com este novo regime, e dizem-no também a outros, mas o medo reina entre eles porque, para os salafistas, os sunitas que não concordam com eles são blasfemos e a consequência da blasfémia é a morte”, desenvolveu.

D. Jacques Mourad acrescentou ainda que para o povo sírio “é algo estranho, é alheio a ele e às suas tradições”, porque “nunca” foi confrontado com uma variante tão rígida do Islão, “e isso faz com que reine um certo mal-estar social”.

A Síria vive uma crise económica, após 14 anos de guerra civil, para além de sanções internacionais que vigoram desde 1979, e que foram reforçadas após o início dos conflitos, em 2011, o responsável religioso considera que se a decisão de levantar as sanções continuar “haverá trabalho, a possibilidade de mudança e melhores condições de vida, e oportunidades”, com as pessoas a recuperarem os seus salários.

“As sanções tiveram um efeito terrível na população síria. Depois da mudança de regime, a maioria das pessoas perdeu o emprego e, agora, não tem meios para sobreviver. Todos os dias vêm ter comigo pessoas que me pedem dinheiro para comprar pão: é o ponto a que chegámos. A maior parte das pessoas não tem dinheiro para o aquecimento, porque se tornou demasiado caro”, exemplificou, na conferência de imprensa da AIS Internacional, no dia 3 de junho.

Foto: Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

O arcebispo sírio-católico de Homs assinala que a Igreja Católica continua a ser uma fonte de esperança para muitos cristãos e outros sírios, e agradece “à AIS e aos seus benfeitores” por ajudarem “os sírios a sobreviver nestes tempos de fome, sede e falta de tudo”.

“Sentimos a responsabilidade de construir um futuro para o nosso país. Queremos participar e envolver-nos nisso; Penso que a Igreja tem de participar nisto, e a melhor maneira é organizar e apoiar grandes projetos destinados a dar emprego, trabalho e encorajamento aos cristãos”, assinalou, indicando que como necessidades específicas dos cristãos são a construção de habitações, hospitais e escolas.

Para D. Jacques Mourad, a Síria “está num caos” porque não existem regras ou normas gerais, e exemplifica que, no Verão, costumam levar os jovens para “acampamentos perto da costa”, mas, este ano, não o vão fazer porque estão “preocupados com a reação das novas autoridades dessas zonas, porque para elas a mistura de sexos não é normal”, e assinala que, em maio, puderam realizar as “procissões em honra da Virgem Maria sem problema”, na informação publicada pelo secretariado português da Fundação pontifícia AIS.

CB/OC

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