Sínodo: Testemunhos apresentam desafio de ser «Igreja no coração do mundo»

Participantes do Brasil, Hong Kong e Malásia apresentaram experiência de «escuta» e participação no processo sinodal

Foto: Ricardo Perna

Cidade do Vaticano, 09 out 2023 (Ecclesia) – A brasileira Sônia Gomes de Oliveira disse hoje aos participantes no Sínodo dos Bispos que a assembleia tem o desafio de construir uma “Igreja no coração do mundo”, com a participação de todos.

“A experiência sinodal tem como objetivo fortalecer a unidade eclesial na diversidade de carismas e vocações, e não tinha como não entrar nesta caminhada”, assinalou a representante do Conselho Nacional do Laicato (CNL) do Brasil, para quem “só não entrou neste caminho quem realmente não quis”.

“Falar de uma experiência sinodal é falar de uma Igreja que tem de ser aberta para acolher, aberta para escutar”, acrescentou.

No primeiro dos quatro testemunhos apresentados esta manhã, no Auditório Paulo VI, Sônia Gomes de Oliveira destacou que “muitos leigos e leigas se descobriram como corresponsáveis na missão”, desde o início do processo lançado por Francisco, em 2021.

“Fazer o caminho sinodal é ser pobre com os pobres e não fazer para os pobres. É a Igreja da pertença que não exclui e não tem maiores nem menores, é a Igreja de Jesus. Somos irmãos”, sustentou.

A representante do CNL afirmou que a sinodalidade deve ser “uma prática para todos na Igreja”, onde “todos batizados são chamados a participar, não só como colaboradores, mas reconhecido pelo seu batismo e conscientes da responsabilidade com a missão”.

“Nem todos compreenderam o processo, houve os que tiveram medo de perder poder, que na verdade deve ser serviço”, admitiu.

Existem muitos lugares de dor, sofrimento que seria importante a presença da Igreja e muitas vezes não temos tantos padres e bispos, leigos dispostos, muitos porque não conhecem a riqueza de descer, ou sair às periferias, outros porque acham que não é papel da Igreja estar ali”.

A intervenção da responsável brasileira apelou ao reconhecimento do trabalho feminino na Igreja.

“É preciso ter o coração fraterno para o encontro com as mulheres que choram pelo caminho da crucificação diária, pois encontramos muitas mulheres que não tem acesso à Eucaristia, ao Batismo e catequese para os seus filhos, por conta de estruturas ainda duras, moralistas, que não conseguem sentir compaixão”, advertiu.

A reunião geral desta manhã marcou o início dos debates sobre a secção B1 do documento de trabalho (Instrumentum laboris), com tema “uma comunhão que irradia”, após uma primeira fase que decorreu entre os dias 4 e 7 de outubro.

A sessão inaugural da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Vanessa Siu-Wai Cheng, da Diocese de Hong Kong e do Movimento dos Focolares, apresentou aos participantes uma reflexão sobre “sinodalidade e culturas asiáticas”, a partir da experiência num continente em que os cristãos, de todas as tradições e denominações, representam apenas 6,53% do total da população.

“O processo sinodal começa com uma verdadeira escuta, mas não há escuta se não houver uma consciência cultural, religiosa, social, económica e política da localidade”, assinalou.

Para Vanessa Siu-Wai Cheng, o Sínodo tem de “prestar ainda mais atenção àqueles que, por alguma razão, se calam”.

“É muito importante que as experiências de alegria e de feridas e as questões levantadas no relatório sejam levadas a sério”, pediu.

Também da Ásia, o padre Clarence Davedassan (Malásia) destacou o papel da minoria católica na vida da Igreja e na “construção e transformação da sociedade humana”.

“A Igreja na Ásia não pode ser autorreferencial e, por isso, procura empenhar-se na renovação do mundo. A nossa união com Deus impele-nos a ser a luz e o sal da terra” precisou.

O sacerdote sublinhou a dinâmica de construção de Comunidades Eclesiais de Base – CEB – que “não só provocam a transformação espiritual, mas também a transformação social”.

O encontro tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

O direito a voto de participantes não-bispos foi abordado por um dos convidados, o metropolita Job, da Pisídia (Igreja Ortodoxa), o qual precisou que, para os ortodoxos, a sinodalidade “corresponde à prática estabelecida pelo primeiro concílio ecuménico” (Niceia, 325), com a participação dos bispos e a presidência do “primaz/protos”.

“À luz disto, poderíamos dizer que a compreensão da sinodalidade na Igreja Ortodoxa difere muito da definição de sinodalidade dada pela vossa atual assembleia do Sínodo dos Bispos”, apontou.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

OC

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Agência ECCLESIA

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