Sínodo: Reforço das relações, proximidade entre «diferentes níveis» da Igreja e novo «paradigma nas comunidades» são frutos da etapa continental – (c/vídeo)

«Viagem sinodal» até à primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária, em outubro, deve continuar a «desenrolar-se ao nível das bases», pede arcebispo australiano

Cidade do Vaticano, 20 abr 2023 (Ecclesia) – A irmã Nathalie Becquart reconheceu hoje a etapa continental do Sínodo dos Bispos como “um dos aspetos mais inovadores” do processo, convidando ao “reforço” das relações da Igreja universal e das particulares.

“O atual processo sinodal, através da integração efetiva dos vários níveis de sinodalidade e da sua articulação numa dinâmica circular de escuta, diálogo e discernimento, está a realçar a necessidade, a especificidade mas ao mesmo tempo a interação entre o exercício da sinodalidade a nível local, regional, nacional, continental e universal”, afirmou a subsecretária do Sínodo dos Bispos esta manhã no Vaticano, numa conferência de imprensa para concluir a segunda etapa do Processo Sinodal 2021-2024.

“A etapa continental pretende encorajar a criação ou o reforço dos laços das Igrejas vizinhas e, ao mesmo tempo, fomentar as relações entre a Igreja universal e as Igrejas particulares”, acrescentou.

A religiosa assinalou a “ideia de circularidade” entre “todos os níveis da Igreja” e que os documentos resultantes das etapas continentais foram construídos num tempo de “escuta e discernimento”, realizado por “todo o Povo de Deus e de todas as Igrejas locais numa base continental, conduzindo a uma série de sete assembleias continentais”.

A irmã Nathalie Becquart reconhece o impacto da sinodalidade concretamente na “escuta, liberdade de expressão, comunhão e solidariedade, mais proximidade, empoderamento.”.

“No final da assembleia do Médio Oriente, um patriarca afirmou: «Ouvir estes jovens, mulheres que realmente amam a igreja e partilham os seus pensamentos e ideias, dá-me realmente nova energia e esperança»”, recordou a religiosa que participou em quatro assembleias continentais.

A diversidade da Igreja como “caminho para a unidade”, a partilha entre “bispos, sacerdotes, leigos, religiosos” e esta partilha realizada “entre diferentes igrejas locais”, também a “troca de dons” que o caminho sinodal tem permitido são aspetos sublinhados pela subsecretária: o cuidado com a “Criação na Oceania”, conhecer o Ecumenismo e liturgia no Médio Oriente ou a “importância da escuta em África”.

“Em cada cultura e contextos há sementes de sinodalidade e obstáculos à sinodalidade : por exemplo, em alguns países da Ásia/África/Oceania a experiência das Pequenas Comunidades Cristãs, os valores tradicionais da África Ubuntu, Família, Palavra, a ênfase na interioridade e harmonia na Ásia, o diálogo inter-religioso e a fraternidade humana com os muçulmanos no Médio Oriente”, indicou.

Irmã Nathalie Becquart

A irmã Nathalie reconheceu que com o fenómeno das migrações e o processo sinodal “nenhuma igreja local vai poder pensar em si mesma apenas com católicos nativos locais”, destacando o surgimento de um “novo paradigma a integrar”.

O arcebispo de Perth e presidente da Conferência Episcopal Australiana, D. Timothy John Costelloe, destacou os encontros que a equipa sinodal manteve ao longo desta semana com os responsáveis pelos dicastérios da Cúria Romana, ressalvando a “abertura, atenção honesta, e escuta respeitosa”, em que aconteceram esses momentos e alertou para a “bolha” que se deve combater: “Precisamos de entrar nesta viagem sinodal com olhos, ouvidos e corações abertos. Esta foi certamente a minha experiência do tempo que pudemos passar com os membros dos dicastérios”.

O responsável australiano sugeriu ainda que se espera que a “viagem sinodal”, até à Primeira Assembleia, em outubro, possa continuar a desenrolar-se “a nível das bases”, a partir dos documentos disponíveis: Médio Oriente, Europa, Ásia, América do Norte, América latina e Caribe, África e Madagáscar e Oceânia.

“Ao começarmos agora a olhar com antecipação para a próxima etapa da viagem, a Primeira Assembleia em Outubro, espero que a nível local de paróquia, de diocese, de comunidade religiosa, de agência eclesial, a reflexão, através da prática do diálogo espiritual, em torno de todo este material e de uma forma particular em torno dos documentos das sete assembleias continentais, continue”, sublinhou.

O secretário-geral do Dicastério da Comunicação, monsenhor Lucio Adrián Ruiz assinalou a necessidade de se acompanhar os muitos “missionários evangelizadores” no mundo digital que não pode ser entendido como “uma ferramenta, mas uma cultura”.

“Descobrimos tantos missionários e evangelizadores em ambientes digitais, que fazem um trabalho muito importante com todo o tipo de pessoas; eles precisam de ser acompanhados, ajudados, apoiados e treinados, para que possam viver a sua fé e acompanhar os seus seguidores, e assim ‘caminharem juntos’ no mundo, que é um só, hoje presencial e digital”, indicou.

O padre Hyacinthe Destivelle, Oficial do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, recordou que o caminho sinodal é também “ecuménico”, assinalando que “a sinodalidade é um desafio que deve ser enfrentado com outros cristãos”, contribuindo deste modo para o “movimento ecuménico”.

“O ecumenismo é, antes de mais, um sínodo, uma peregrinação feita em conjunto com outros cristãos”, sublinhou.

A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal portuguesa, que terminou hoje em Fátima, escolheu dois delegados e um substituto à XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, que vai decorrer em Roma de 29 de setembro a 29 de outubro de 2023, cujos nomes serão divulgados após confirmação do Papa Francisco.

OC/LS

Na sequência de uma inédita consulta global às comunidades católicas, lançada pelo Papa em outubro de 2021, sete assembleias continentais aconteceram entre fevereiro e março, com a seguinte divisão: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

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Agência ECCLESIA

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