Augusta Delgado e Cristiana Tamagnini, participantes no Jubileu das Equipas Sinodais, e Octávio Carmo, vaticanista, analisam implementação do processo, com início em 2021, nas comunidades e suas resistências
Lisboa, 03 nov 2025 (Ecclesia) – Os membros da delegação portuguesa que participaram no Jubileu das Equipas Sinodais em Roma admitiram regressar a Portugal motivados para implementar a sinodalidade, que acreditam que está para continuar e que conhece diferentes ritmos em cada realidade.
Cristiana Tamagnini, da equipa sinodal da Diocese de Beja, foi uma das participantes do encontro jubilar, entre 24 e 26 de outubro, uma experiência que viveu com “entusiamo”, contactando com várias pessoas, de situações, países e realidades “diferentes”, unidos com um mesmo objetivo.
“Estamos todos para um bem comum, para o mesmo caminho e com muita vontade e claro que isso incentiva bastante e leva-nos a trazer um novo impulso para a nossa diocese também”, afirmou em declarações ao Programa ECCLESIA, emitido hoje na RTP2.
A XVI Assembleia Geral do Sínodo, cuja segunda sessão decorreu de 2 a 27 de outubro de 2024, teve como tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’; o processo começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021, e a primeira sessão sinodal decorreu em outubro de 2023.
O vaticanista Octávio Carmo estabeleceu um paralelismo entre o processo sinodal e uma maratona, indicando que o percurso foi “definido” e que cada uma comunidade vai concretizá-lo consoante a sua realidade.
“Uns vão correr, outros vão distribuir água, outros vão ser o público, outros vão definir o percurso, outros vão ser juízes e definir quem é que chega, quem é que é desqualificado, mas é isto que nós vamos fazer agora. E, portanto, a partir deste momento, não há ideia de que [o processo sinodal] é algo opcional”, assinalou.
Abordando as resistências ao Sínodo, Octávio Carmo reforça a perspetiva do Papa Leão XIV, lembrando que “se a ideia for só bater recordes”, vai haver “uma rutura”.
Se houver uma vontade muito rápida de chegar a resultados concretos e transformações fulminantes, leva a uma rejeição em massa dessas transformações, porque elas não nascem de um processo participado, coletivo e alargado”, realçou.
O chefe de redação Agência ECCLESIA considera que “o importante é que o processo crie dinamismo, alargue a participação e que, depois, aquilo que ele vem a produzir possa ser serenamente acolhido por todos”.
Octávio Carmo apontou a importância da formação para combater resistências, reafirmada por Augusta Delgado, que integra a equipa sinodal na Diocese de Setúbal e que participou no encontro jubilar.
“É fundamental termos esta formação para todos estarmos a falar, a perceber os mesmos conceitos do que é que estamos a falar, porque uns podem entender a sinodalidade como uma coisa, outros como outra”, referiu.

Cristiana Tamagnini dá conta que na Diocese de Beja “há bastantes resistências”, mas que saiu do Jubileu das Equipas Sinodais com a convicção de “que o processo está lançado, a sinodalidade está para continuar, não há volta a dar, não vai haver hipótese”.
Augusta Delgado enfatiza que o “Sínodo tem que ser implementado de acordo com a realidade de cada comunidade”.
“O Papa Leão, a forma como abordou a questão, foi uma forma mesmo muito clara de que cada um tem o seu tempo”, recordou, acrescentando que não se pode olhar para a questão da sinodalidade como se tivesse um manual.
A responsável evoca a conversão das relações como um dos elementos a ter em conta: “Nós estamos aqui não para sermos uma igreja de preservação do que está, mas uma igreja missionária. Esta igreja missionária tem que sair”.
Augusta Delgado realça que a sinodalidade é “a forma de ser Igreja”.
| Em Beja, Cristiana Tamagnini explica que a diocese entrou na terceira fase de implementação do Sínodo, com a realização de um encontro com dois arciprestados, que teve “uma boa adesão”.
“Superou as nossas expectativas e realmente tem sido muito gratificante ver que temos pessoas que estão importadas com a sinodalidade e em fazer e em construir este novo caminho”, contou. Em Setúbal, Augusta Delgado relata que existem realidades diferentes: “Cada paróquia tem a sua história, tem a sua caminhada”. “A verdade é que nós já temos, efetivamente, paróquias na nossa diocese que já se notam esses passos da sinodalidade. Dar um exemplo: uma Assembleia que é aberta a toda a comunidade, a todo o povo de Deus. E que participam, isto é um gesto de sinodalidade. As Assembleias não eram abertas assim a toda a gente”, ilustrou. |
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